quinta-feira, 27 de junho de 2013

À direita da direita

* Por Fausto Brignol

Sem partido!, sem partido!” – curioso movimento que opta pela alienação, justamente quando se diz formado por pessoas engajadas. “Você é engajado?” – pergunta o programa da tarde da Globo News, no dia 21 de junho, início oficial deste inverno que ameaçava se transformar em Primavera. Todas as “Primaveras” têm sido reacionárias e promovidas pelo sistema que usa jovens adolescentes ou pouco mais que isso para os seus objetivos claramente antidemocráticos.
A primeira “Primavera” foi a de Praga, em 1968, na então Tchecoslováquia, quando reformistas com o apoio do Ocidente tomaram o poder, incitando o povo à rebelião contra o governo socialista. O objetivo, que foi alcançado, era atrair a invasão soviética no pior momento da guerra fria que ameaçava se tornar muito quente e atômica. Naquela época não existia Internet e radiotransmissores foram utilizados para galvanizar a população contra a opressão provocada.
A Primavera polonesa teve origem com a fundação do direitista sindicato Solidariedade, nos anos ‘80, liderado por Lech Walesa, cuja única ideologia era o catolicismo. Em 1978, o autodenominado “mundo livre” escolhera o polonês Karol Woytila como Papa João Paulo II, logo após a estranha morte de João Paulo I, e a sua influência carismática na Polônia aliada à presença demagógica de Lech Walesa levou a Polônia a sucessivas greves e movimentos sociais.
O ex-diretor da CIA, Robert Gates, escreveu, em 1996, no seu “Livro das Sombras”, que a CIA foi mais ativa na Polônia na década de ’80, e até mesmo“forneceu boa quantidade de dinheiro e equipamentos para a resistência polonesa”. Inclusive uma televisão clandestina, que, na véspera da visita do Papa substituiu o telejornal de Varsóvia com uma mensagem pedindo aos ativistas para participar de manifestações públicas. No entanto, ainda não foi confirmado se Lech Walesa – Prêmio Nobel da Paz em 1983 – era agente pago pela CIA. Há evidências, não provas.
A Primavera Árabe, alusão à Primavera de Praga, iniciou na Tunísia em dezembro de 2010, expandiu-se para a Argélia e Egito – estratégicos países da África do Norte – e, depois de conquistar o poder naqueles três países contou com o apoio das forças da OTAN para derrubar o regime socialista islâmico de Moamar Kadhaffi, que foi assassinado pelos primaveris mercenários que penetraram no território líbio através das fronteiras da Tunísia, Argélia e Egito.
Atualmente, a Primavera Árabe tenta derrubar o governo da Síria, e os países ocidentais estão nisso muito empenhados, não só para roubar os minérios de petróleo e gás, mas também para forçar uma definitiva rota de colisão com o Irã e, posteriormente, Rússia. Os mercenários que estão sendo derrotados na Síria, após dois anos de combates apelidados de “revolta popular” pelos meios de comunicação do Ocidente, entram naquele país através das fronteiras da Jordânia, Líbano e Israel. Em breve, receberão grande auxílio em armas, munições e dinheiro dos Estados Unidos e aliados europeus. Não está descartado um ataque aéreo das mesmas forças da OTAN que destruíram a Líbia.
As revoltas no Brasil, iniciadas há mais de uma semana, têm objetivos democráticos e se pretendiam pacíficas em seu início, constando de manifestações pelo passe livre, contra a corrupção, os gastos com a Copa de 2014, a impunidade e a lerdeza do Governo em resolver problemas que estão se tornando crônicos, como a saúde, a educação e a segurança, entre outros. Debate-se, também, a legitimidade dos políticos.
Não sei de nenhuma crítica contra o latifúndio, contra o massacre de indígenas, a favor da reforma agrária, a favor da reforma urbana, contra o desmatamento desenfreado, contra a desertificação, contra a grilagem (roubo de terras), contra a hidrelétrica de Belo Monte e outras hidrelétricas que ameaçam devastar ainda mais a fauna e flora e provocam a destruição de diversas etnias de povos indígenas.
Não tomei conhecimento de qualquer crítica que pretenda aprofundar ainda mais o debate político propondo, por exemplo, a transformação da nossa democracia - de representativa em participativa.
Não estou sabendo de nenhum protesto ou proposta de debate que busque transformar a decadente democracia pequeno-burguesa brasileira, voltada somente para os interesses monopolistas das grandes multinacionais, em uma democracia realmente popular.
Ninguém, que eu saiba, propõe o fim do modelo neoliberal. Ninguém critica os acordos com os Estados Unidos, com a União Européia, que fazem do Brasil um país exportador a serviço daquelas potências. Ninguém coloca em debate a presença das Forças Armadas brasileiras no Haiti e da nossa Marinha de guerra nas costas do Líbano, em apoio à OTAN. Ninguém contesta o atrelamento ao monetarismo capitalista, origem e causa da inflação.
A política está proibida nesses movimentos. Os partidos políticos não podem se manifestar, caso em contrário os seus membros são espancados e as suas bandeiras rasgadas e queimadas. Uma onda de alienação varre o Brasil. Varre e destrói.
“Você é engajado?” – pergunta a Rede Globo para pessoas que acreditam que engajamento é sinônimo de depredação. “Estamos recriando o Brasil”, diz um dos motes do movimento. Sobre que bases? Qual a proposta? Tudo indica que a proposta é dizer não a todas as propostas, transformar o país em terra arrasada e dar motivo para que os magoados militares que estão tendo o seu passado antipatriótico de golpistas desvendado reassumam o poder no instante em que o Governo revelar toda a sua ineficácia e incapacidade também em conter vândalos.
O que é feito da polícia que não age preventivamente? Porque as passeatas são marcadas para o fim de tarde, entrando pela noite? Há sérias suspeitas a respeito da acanhada ação policial, que deixa depredar para depois agir.
Se assim continuar, as Forças Armadas terão motivos para golpear novamente a Constituição, despejar Dilma e todos os seus colegas de Brasília sob o pretexto de que o país está ingovernável.


* Jornalista e escritor

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