quinta-feira, 30 de maio de 2013

Inovações que foram saltos qualitativos

A ópera, depois de longo período de estagnação, que causou desinteresse público pelo gênero a ponto de quase levá-lo à extinção, subitamente entrou em nova fase, em que foi revigorada mediante mudanças, principalmente nos temas que passaram a ser explorados pelos compositores. Esse primeiro movimento reformador (ocorreram outros, de que também tratarei) centralizou-se, principalmente, em Nápoles, mas não apenas ali. Caracterizou-se pelo aparecimento do que passou a ser conhecido como “ópera buffa napolitana” e teve no compositor Giambattista Pergolesi seu principal expoente. Sua composição mais conhecida foi “La serva padrona”, cujo libreto é de autoria de Gennaro Antonio Federico.

O enredo trata, com leveza e bom-humor (explorando o lado picaresco da situação) de um caso que na época não era muito comum. Narra as peripécias da criada Serpina. Com malícia e inegável esperteza, essa personagem consegue convencer seu patrão, Umberto, a desposá-la. Guindada, dessa forma, à condição de patroa, desforra as humilhações que sofreu, enquanto empregada, nas que passaram a substituí-la nessa função. A ópera agradou em cheio o público, que gostou dessa ousada mudança temática, o que estimulou outros compositores a seguirem a mesma linha.

Outra ópera cômica, de grande valor artístico, foi “O matrimônio secreto”, de Domenico Cimarosa, cujo autor do libreto foi Giovanni Bertati, levada aos palcos em 1792. Outras tantas peças operísticas na mesma linha foram compostas e apresentadas, mas nenhuma delas teve tamanha relevância como as duas que citei. Ademais, as mudanças nos temas e nas técnicas não se restringiram à Península Itálica e a seus compositores.

Christoph Gluck, por exemplo, que tinha como principal (embora não único) libretista Ranieri di Calzabigi, introduziu, na Alemanha, uma série de mudanças no gênero, tão importantes que passaram a ser conhecidas como a “segunda reforma da ópera”. Na verdade, o que ele fez foi, de certa forma, promover uma volta às origens. Ou seja, tornou a subordinar, como originalmente acontecia, a música “exclusivamente” à narração do drama, suprimindo o excesso de árias que então era moda.

Exemplo típico disso foi sua ópera “Orfeu e Eurídice”, estreada em 5 de outubro de 1762. Essa composição é tida como o sepultamento do estilo barroco na música. Este caracterizava-se, grosso modo, por firulas vocais gratuitas e desvinculadas do contexto, além de outros tantos “penduricalhos”. Há, ainda hoje, quem aprecie esse tipo de composição. Da minha parte, embora considere o estilo barroco relevante do ponto de vista histórico, não gosto dele. É uma questão de gosto, claro e este não se discute. Todavia minha preferência é por uma música bem mais refinada, entre outras coisas, do ponto de vista técnico.

O fato é que, a partir das composições de Gluck, que não tardaram em ser assimiladas por outros tantos compositores, Europa afora, estava imposto novo modelo de se compor óperas. Seu estilo tornou-se uma espécie de parâmetro desse período, classificado pelos historiadores de arte como “clássico” do gênero operístico, com inegável e consensualmente reconhecido avanço qualitativo. Gluck viria a compor várias outras peças, tão boas ou melhores que “Orfeu e Eurídice”, como  “Alceste”, “Iphigenie en Aulide” e sua continuação, “Iphigenie em Tauride”, entre tantas.

Mas a Península Itálica não ficaria a reboque de nenhum outro país no quesito inovação do gênero, que significasse, simultaneamente, em evolução qualitativa. Foi ali que surgiu, em meados do século XVIII e início do século XIX, o que se convencionou chamar de “Grande Ópera”. E foi grande, de fato.

Luigi Cherubini compôs, por exemplo, “Medeia”, encenada pela primeira vez em 13 de março de 1797. Gasparo Spontini legou à posteridade essa maravilha chamada “A Vestal”. Gioacchino Rossini consagrou-se com “O barbeiro de Sevilha” (22 de fevereiro de 1806), “La Cerentola” (25 de janeiro de 1817) e, principalmente, “Guilherme Tell” (3 de agosto de 1829). Vicenzo Bellini compôs “A Sonâmbula” (6 de março de 1831), “Norma” (26 de dezembro de 1831) e “I Puritani” (25 de janeiro de 1835). E não se pode esquecer de Gaetano Donizetti, com “Ana Bolena” (26 de dezembro de 1830), “O Elixir do Amor” (12 de maio de 1832) e “Lucia de Lammermoor” (25 de setembro de 1835). Há, claro, outros tantos compositores geniais, italianos, alemães, franceses etc., dos quais tratarei no devido tempo.

Boa leitura.


O Editor.

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk

Um comentário:

  1. Para conhecimento geral sim, mas acredito não me atrever a assistir a uma ópera na língua original.

    ResponderExcluir