quarta-feira, 17 de abril de 2013


Sinto sua ausência

* Por Sayonara Lino

Lembrar-me dói um pouco, mas esquecer não posso. Tento colocar limites em minha imaginação que te alcança rapidamente.

Sei que agora a casa não tem mais tons de bege. Você me disse que pintou de lírio, uma espécie de rosa sofisticado. Pena que não estarei aí para ver. Em tom delicado, falou que o caminho para aquela mata absolutamente silenciosa e mágica, agora está mais acessível. Não precisaria mais me carregar no colo. De todo modo, não trilharei esse percurso. Não pense que é fácil ter consciência disso, mas meu caminho agora é outro.

Meu jeito um pouco inconstante somado a uma certa instabilidade de sua parte nos colou em situações inesperadas, que terminariam em tristeza se não tivessem um fundo cômico. Vou lhe contar, deu para rir e chorar.

Foram muitos desencontros ao longo do tempo, mas as conexões foram incríveis. Você preenche qualquer ambiente com sua beleza e alegria sem tamanho. Confesso, sinto sua ausência.

Olho o céu azul através da pequena janela de meu apartamento e penso no horizonte que, daí, seus olhos podem alcançar. Sei que colherá flores para outra pessoa, que o café na cama não será destinado a mim, que as gargalhadas nos filmes não serão compartilhadas comigo. Ainda assim, em um gesto nobre que custei a desenvolver, desejo que seja feliz.

Tem uma câmera no armário que você me emprestou. Trocaria ela com mais cem filmes asa cem por dez mil beijos seus, cinco mil abraços e pelo menos mais dois anos ao seu lado. Como não será possível, está devidamente preparada para registrar belas imagens, que talvez um dia eu amplie e lhe mande de presente: para decorar a parede de sua sala, para que um pedaço do que vi esteja presente, para que você não me apague completamente. Desejo, ao menos, fazer parte de sua decoração.
          
           ·  Jornalista, fotógrafa e colunista do Literário 

Um comentário:

  1. Que lindeza! Adorei! Conseguiu mostrar uma questão pessoal de uma forma tão ampla e harmônica que poderia ser a história de uma mulher ou a minha. Ficou universal. Há saudade, mas sem arrependimento. E caso fosse facultado ficar mais um pouquinho, muitos abraços e beijos aconteceriam. Eu me vi em suas palavras.

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