sábado, 27 de abril de 2013


O lado desastroso de uma crise

As crises são ocorrências bastante comuns na vida das pessoas e não apenas delas, mas também na de organizações, empresas, países etc. Comparo-as à febre em nosso organismo. Ou seja, pouco (ou nada) adianta combater seus sintomas, os efeitos desagradáveis que produzem. O mais inteligente e sensato é atacar as causas, aquilo que as produz, para que não voltem a ocorrer. São chatas, desgastantes, perigosas e muito estressantes.

Todavia, as crises, se (ou quando) bem administradas, tendem a ser positivas. Permitem-nos, por exemplo, entre outras atitudes, a de correção de rumos em nossos negócios, relacionamentos (não importa se profissionais ou afetivos), comportamentos etc. Além disso, induzem-nos a recorrer àquela reserva de energia e criatividade, que nem desconfiamos que temos, mas que existe de fato e está lá, bem no fundo do nosso cérebro, à espera de lançarmos mão dela nas emergências.

Cheguei a essa constatação baseado não na observação do que acontece com os outros, em tais circunstâncias (embora me esforce sempre para observar mesmo, e com a máxima atenção, como eles agem, até como uma forma de “cortar caminho” para a solução do que me amofine e aflija), mas em minha própria experiência. Meus maiores sucessos pessoais e profissionais sucederam a devastadoras crises, que poderiam até me destruir caso não encontrasse saída. Meus textos mais expressivos e apreciados foram produzidos em ocasiões em que me sentia sem nenhuma criatividade. Meus relacionamentos mais sólidos e agradáveis ocorreram em circunstâncias igualmente críticas. Enfim, foi em ocasiões de dificuldades extremas que encontrei, não raro em desespero de causa, as soluções para problemas que pareciam insolúveis.

As crises, embora aflitivas e perigosas, embora desagradáveis e estressantes, tendem a ser janelas de oportunidade, caso saibamos lidar com elas. E isso vale tanto para pessoas, quanto para empresas, organizações, países etc. Não é raro clubes de futebol, por exemplo, emergirem de situações críticas, em que tudo parece perdido, para a conquista de títulos. Isso acontece, claro, apenas quando seus dirigentes remam numa única direção, via de regra sob uma liderança forte, criativa, sensata e consensualmente acatada, que goze da credibilidade dos liderados.

Países têm emergido de profundas crises econômicas para períodos de prosperidade e progresso. Esses casos, contudo, são mais raros. Porém acontecem quando os envolvidos conseguem transformar o que à primeira vista é apenas perigo, em amplas oportunidades. O Brasil já passou, e em mais de uma ocasião, por situações como estas. Aliás, este é o País das crises: ora políticas, ora institucionais, ora sociais, ora econômicas e vai por aí afora. É desnecessário citá-las, já que boa parte delas todos nós sentimos na carne (notadamente, no bolso). De algumas, emergimos mais fortes e aprendemos as duras lições que delas poderiam ser extraídas. De outras...nem tanto. Por isso elas representam desnecessários e evitáveis retrocessos, cujas conseqüências recaem, invariavelmente, nas gerações seguintes.

Uma das crises mais perversas e daninhas enfrentadas pelo Brasil, contudo, caiu no esquecimento. É como se nunca tivesse existido. Há raríssimas referências a ela nos relatos históricos e mesmo esses se restringem a algumas reles linhas, como se seus efeitos fossem ínfimos e desprezíveis. Refiro-me ao que ficou conhecido com o nome pejorativo de “encilhamento”. Esse é o tema que trarei à baila nos próximos dias, buscando extrair lições que parece que nossa sociedade não soube identificar e aprender.
Acho estranho, estranhíssimo que um fato de tamanha gravidade, que trouxe tão nefastas conseqüências ao nosso desenvolvimento e deixou tantas seqüelas, tenha sido “expurgado”, virtualmente, até do ensino oficial da nossa História. Aliás, convenhamos, nunca houve o desejável rigor no trato dessa tão importante disciplina por parte dos responsáveis pela Educação no País. Pouca gente sabe qualquer coisa referente ao encilhamento. E os que pelo menos ouviram falar desse episódio, desconhecem importantes detalhes a propósito.

Em grande parte, essa desastrosa política, posta em prática nos primeiros anos da República, deveu-se à condenável mania nacional de cortar caminhos, de buscar atalhos, mesmo que não confiáveis (como no caso), de queimar etapas da dura tarefa da promoção do desenvolvimento. Essa profunda crise do início do século XX não ensinou coisa alguma aos nossos dirigentes políticos. E por que afirmo isso, com tamanha convicção? Porque planos mirabolantes, como o do encilhamento, multiplicaram-se através dos anos. Seus mentores esqueceram-se de que a principal tarefa de um administrador é a de “definir prioridades” e de viabilizá-las sem recorrer a nenhuma “prestidigitação”.. “Milagres” que se revelaram na sequência não passarem de engodos, miragens e ilusões, portanto, o Brasil teve em profusão. Oxalá não torne nunca mais a enveredar por este caminho enganador, que é o lado do “perigo” e não o das “oportunidades” que uma crise (qualquer delas) proporciona. Voltarei a abordar o assunto com maior objetividade e mais detalhes.

Boa leitura.

O Editor.

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