quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013


Fonte inesgotável de proteínas

A desnutrição é um dos grandes problemas da humanidade e não é de hoje que isso acontece. A situação, óbvio, é mais grave entre a população infantil do super povoado Terceiro Mundo, onde a fome chega a ser epidêmica. Parcela considerável dos mais de 7 bilhões de habitantes do Planeta tem, por uma razão ou outra, deficiências nutricionais agudas, reduzindo, severamente, suas expectativas de vida.

Isso acontece a despeito do mundo contar com abundância de alimentos, tanta que 50% de tudo o que se produz anualmente são desperdiçados e, ainda assim, os silos dos países produtores e dos do Primeiro Mundo estão sempre abarrotados, com estoques suficientes para alimentar toda a humanidade por pelo menos uma década. Imaginemos, porém, que os cada vez mais escassos solos férteis do Planeta, por uma série de fatores (principalmente os climáticos, dada a progressão do chamado “efeito estufa”) deixem de produzir. Que haja, digamos, por quatro ou cinco anos consecutivos, calamitosas quebras de safra e que os estoques logo se esgotem.

Emerge uma pergunta – ainda hipotética, mas que pode (Deus que nos livre) se tornar concreta e imediata – com a qual as autoridades internacionais deveriam se preocupar. A questão em tela é: qual seria a alternativa para garantir os nutrientes necessários para manter tantas pessoas vivas e saudáveis? Se você pensou em proteínas animais de gado de corte (boi, porco ou carneiro) está enganado. A alternativa também não seria a carne de aves e nem seus ovos. Especialistas em alimentação, de várias partes do mundo, propõem, caso ocorra essa emergência, essa catástrofe, sabem o quê? Que se lance mão de algo super abundante na Terra, que não implique em despesas de produção, estocagem e transporte e que, ao mesmo tempo, supra de nutrientes indispensáveis à saúde todas as pessoas.

Na realidade, isso já existe. E em vários lugares (e em diversas épocas) vem sendo utilizado, posto que por minorias. Querem saber qual é essa potencial fonte de proteínas, praticamente inesgotável e acessível a todos? De acordo com os especialistas, são os insetos. Isso mesmo, caro leitor. Confesso, da minha parte que, se essa for a alternativa que me restar para sobreviver, estarei condenado. Os entendidos na matéria garantem que raras pessoas os consomem por causa, somente, de puro preconceito. Pois neste caso, eu o tenho.

Antes que me questionem, explico que trago este assunto à baila não com a intenção de chocar meu paciente leitor, mas porque constatei existir vasta literatura a propósito. E como este espaço é dedicado a livros, não vejo nenhuma razão objetiva para não enfocar estes também. Ademais, é como se os autores dessas publicações estivessem com alguma premonição (tomara que não) de que algum dia (tomara que nunca chegue) esta será a única alternativa que irá restar à humanidade para escapar do flagelo da fome e das suas seqüelas, das quais a mais ostensiva é a desnutrição.

Os especialistas explicam que não se trata de consumir qualquer inseto. Muitos são transmissores de doenças letais e, se consumidos, obviamente o “tiro sairia pela culatra”. E nem se trata de devorá-los vivos, crus, pois não haveria (e nem haverá) estômago que aguente isso. O Departamento de Biologia da Universidade Autônoma do México já catalogou 2.346 espécies diferentes de insetos que podem ser consumidas sem nenhum risco para a saúde e com imensos proveitos nutricionais. Entre elas, estão incluídas as térmitas (cupins) muito abundantes por toda a parte e com uma capacidade de reprodução impressionante, a ponto de se constituírem em grave problema para os agricultores.

Todavia, esses incômodos e prolíficos bichinhos, tidos e havidos como indesejabilíssimas pragas, têm “um valor calorífico quatro vezes maior do que a carne”, conforme assinalaram os pesquisadores mexicanos Julieta Ramos e Rafael Caballero. “A alimentação reflete a situação sócio-econômica, preconceitos e tabus das pessoas. Seu conceito varia da população urbana para a rural. A primeira, por exemplo, tem nojo de consumir insetos. E a segunda se alimenta deles e até os comercializa”, observou Caballero, em uma entrevista que concedeu em 22 de abril de 1987 à agência de notícias “The Associated Press” e que localizei, dia desses, em meus arquivos.

Aliás, a dieta dos antigos indígenas do México, em especial dos mixtecas e zapotecas, não dispensava estas (para eles) “deliciosas iguarias”. Por muito tempo, os habitantes dos Estados de Guerrero, Oaxaca e Chiapas do Sul, cultivaram esse hábito. Por isso, entre tais populações, os casos de subnutrição e desnutrição sempre foram raros, a despeito da sua pobreza.

Ainda hoje, moradores dessas regiões conservam o hábito de comer formigas, lagartas e gafanhotos. É claro que não os comem assim, a seco, sem qualquer preparo. Os insetos são preparados para serem, por exemplo, recheios de tortas de milho e com molhos de pimenta e de limão. Muitos turistas, que à simples menção desse hábito torcem o nariz, cheios de nojo, experimentaram com certeza (embora não o soubessem e muitos ainda vão experimentar) essas “iguarias” e as acharam deliciosas. Ah se soubessem do que se tratava! Alguns pesquisadores pretendem fazer com que essas comidas, algumas com a adição de queijo gratinado, sejam levadas aos cardápios dos bolsões de miséria da capital e de outras grandes cidades mexicanas. Garantem que com isso os índices de subnutrição e desnutrição seriam reduzidos praticamente a zero. Voltarei, certamente, a tocar no assunto, e com maiores detalhes.

Boa leitura.

O Editor

Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk.         

Um comentário:

  1. A carne de cavalo em hambúrgueres e comida congelada já gerou tanta revolta e prejuízo, quanto mais cupins. Já comi carne de jiboia e gia, sabendo e apreciando. Ou se esquece o que se está comendo, ou treina-se para comer insetos. No filme Papillon o personagem comia as baratas que a maré trazia ao calabouço. Sobreviveu devido a esse aporte proteico. Como dizia a minha mãe: sapo não pula por que gosta, mas por necessidade.

    ResponderExcluir