quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013


Faça o que você quiser

* Por Gustavo do Carmo

Dia desses estava na sala de espera para fazer um exame de função respiratória e peguei uma revista Quem para ler. A publicação de celebridades tinha uma matéria sobre a briga da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano. Lendo os detalhes da discussão, li que o Zezé disse para o irmão, que ameaçava se separar:
- Faça o que você quiser!

Imediatamente lembrei da discussão que tive com uma ex-colega de pós-graduação, quando ela fazia corpo mole para fazer os trabalhos em grupo comigo. Eu me cansei e disse que ia fazer sozinho. D., vamos chamá-la assim, disse:
- Faça o que você quiser!

Expressão de gente que tira o corpo fora. Antes, eu já tinha reclamado quando D., que já fazia corpo mole junto com outro ex-colega, B. para realizar um trabalho anterior, combinou com um terceiro ex-colega (N.) sobre o trabalho que eu queria fazer. Detalhe: depois que eu saí cedo de um dia de faculdade. Enquanto eu estava na aula, D. se dizia indecisa. Ou seja: ela não queria era fazer comigo.

Assim, eu reclamei com D., ameacei sair do grupo e fazer sozinho. Ela disse:
- Faça o que você quiser.

Como era esse corpo mole? D. sempre dava um jeito de adiar e até nem combinar o que fazer nos grupos dos trabalhos. Logo D., que dizia que éramos um grupo. Acho que quis dizer que o grupo era ela e B., que estou cismado que estão tendo um relacionamento amoroso.

Bem, quando eu dizia "Vamos fazer o trabalho?", D. gaguejava e prometia combinar durante a quinzena de folga. Nesse período, eu mandava e-mails organizando o grupo e ninguém respondia. Na aula seguinte, D. faltava. Na outra, o rapaz "namorado" dela. Na terceira, D. de novo. Na quarta, ela chegou atrasada.

Foi nesta quarta aula que eu saí cedo e D. combinou o grupo pelas minhas costas. Eu não ia assistir à aula do professor A. porque estava envergonhado com a bronca que ele tinha me dado na quinzena anterior. Somente na sexta-feira seguinte que D. mandou um e-mail coletivo falando do trabalho e materiais que tinham combinado pelas minhas costas. Me senti traído.

Reclamei, mas, como sou uma pessoa insegura, fiquei com medo de ser desprezado na faculdade por eles. Acabei pedindo desculpas. Grande erro.
Fiz o trabalho sozinho. Tanto eu quanto eles entregamos para dois professores. Me saí melhor do que eles. Eu acho.

Veio o meu aniversário. Ninguém me deu parabéns. Estava esperando isso para fazer uma limpa no meu facebook. Esperei até a manhã do dia seguinte. Nada. Somente à noite que D. me desejou feliz aniversário. Ainda assim, porque eu tinha perguntado se ela ia fazer o trabalho da professora G. comigo ou não. Ela disse a famosa frase.
- Faça o que você quiser.

Respondi dizendo que eu cansei de fazer com eles. D. repetiu a frase.

No sábado da aula da professora G., D. me vem com uma camisa de malha de presente. Só que o presente não foi pelo meu aniversário. Ela deu também para o "namorado" B.. Minutos depois, quando G. perguntou como seria o grupo, D. disse que eu ia fazer sozinho porque eu queria produzir um programa cultural (era o trabalho prático final) e ela disse que odiava falar de cultura, com direto a tom de nojo. Me deu uma raiva!

Fui educado e tentei me juntar a D. e B.. Mas como não entendo nada de política, tema sobre o qual D. queria produzir, me senti deslocado. Me senti num grupo falando sânscrito. Resolvi rascunhar sozinho um espelho de um programa cultural. Só que G. exigiu uma pauta mais completa.

Ora! Como vou fazer um trabalho de produção, sem a garantia de equipamentos da desorganizada faculdade e sem saber como solicitar sozinho? Na aula da tarde, uma prática de apresentação em TV, outra professora, L., mandou formar um grupo para relembrar o 11 de setembro.

D. mais uma vez não confiou em mim. E fez com uma outra moça, T.. Eu fiquei com B. e mais um outro rapaz, U., que ficou inseguro e não conseguiu fazer o papel de repórter que entrevistaria um dos sobreviventes dos atentados ao World Trade Center, interpretado pelo "namoradão" de D.. Eu fui o apresentador do telejornal. Acabei gaguejando. E cuspindo. A professora L. me criticou bastante e me botou lá em baixo. Disse até que a minha dicção era péssima. Ela tinha razão. Ah, se eu tivesse aproveitado a oportunidade de mandar tudo pro espaço e a turma para a merda! E jogar a camisa na cara de D. Semanas depois, dei a camisa para um jornaleiro de confiança em Copacabana.

Somente na terça-feira depois desta aula, D. me manda um e-mail me pedindo o endereço eletrônico da professora L. Desabafei. Ou melhor, explodi. Sem xingamentos, acusei-a de ter me barrado do grupo da matéria da manhã e que ia largar o curso. D. respondeu que eu dissera com todas as letras que não ia levar ninguém para a vida, inclusive ela, que tinha lido um post no meu Twitter, que ela dizia que nem usava. Mentirosa! Então falou a célebre frase:
- Faça o que você quiser.

Mais uma vez errei e pedi desculpas. Insegurança, burrice e infantilidade minha. Em vez de dizer que aceitava as minhas desculpas, D. respondeu com um frio e-mail, quase anunciando o namoro com B., falando mil maravilhas dele. Foi mais calorosa pra isso. Sobre eu anunciar que ia sair definitivamente da pós-graduação, mesmo faltando apenas uma matéria, o que eu fiz mesmo, D. disse pela última vez:
- Faça o que você quiser. E tirou o corpo fora para sempre. Nunca mais falou comigo.

* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora Multifoco/Selo Redondezas - RJ. Seu  blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores

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