sábado, 29 de dezembro de 2012

Versos de fim de ano

* Por Carlos Drummond de Andrade

I

Você sabia que a lua
Ainda não foi visitada?
Que há sempre uma lua nova
… Dentro de outra, e encantada

***

É lá que vivem as graças
Que nesta quadra de ano
A gente sonha e deseja
A todo gênero humano

***

Mas a lua, preguiçosa,
Nem sempre atende a pedida?
A gente pede assim mesmo
Até melhorar a vida

***

II

É tempo de pesquisar no tempo
Uma estrela nova, um sorriso;
De dizer à nuvem: sê escultura.
E a escultura: sê nuvem.

***

Tempo de desejar, tempo de pensar
Madura e docemente o bom de acontecer
(e mesmo não acontecendo fica desejado),
pássaro-mensageiro, traço
entre vida e esperança
como satélite no espaço.


***

III

Na volta da esperança
um princípio de vida:
ser outra vez criança
por toda, toda vida.”


* Poeta, cronista e contista, membro da Academia Brasileira de Letras

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