quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Poema premonitório

* Por Alberto Cohen

Quando o tempo estiver a serviço de outras vidas,
uma indagação, emoldurada de certezas,
restará detrás da porta, no punho da rede,
em olhos amedrontados no fundo do espelho:
Onde findou o caminho de andar de mãos dadas?
As paredes não terão respostas nas cores desbotadas
e as flores, emudecidas flores, estarão no passado,
belas e eternas, símbolos da ausência nos vasos vazios.
O sorriso esquecido, submerso num copo com água,
rirá para sempre dos sonhos, dos planos, das gargalhadas,
e nas gavetas a solidão das vestes de um só corpo
aguardará, inutilmente, a solidão de suas metades.
Um zelador de lembranças ajuntará meias-verdades,
frases presumidas, dores pressentidas, cartas amareladas,
em poemas com sabor de coisas muito antigas.
E as andorinhas voltarão para a sacada?
E a canoinha do quadro torto na parede,
quando atravessará o rio?


• Poeta e escritor paraense

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