quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Encontro de eternidades

* Por Pedro J. Bondaczuk

O presente tem uma duração tão curta, de infinitésimos de segundo, que chega a se constituir em mera abstração. Formamos como que um ponto de encontro entre duas eternidades: a do passado e a do futuro. O primeiro, é o que não pode mais ser alterado, embora gere conseqüências durante toda a nossa vida por causa de ações que tenhamos praticado ou das omissões quando deveríamos ter agido e não agimos. O segundo, é mera possibilidade. Pode ou não vir a ter existência real. É condicional. Não passa, portanto, de simples conceito. Depende de estarmos vivos para que o alcancemos e transformemos de imediato em passado, tão logo ingressemos em seu umbral.

Nosso grande erro é o de projetarmos nossa vontade e nossos esforços em um tempo longo demais. Ou permanecemos com a mente em um passado, lamentando fracassos ou estacionados em efêmeros sucessos, ou corremos atrás de sonhos que não estamos dispostos a concretizar, por empurrar sua realização (ou tentativa) para um futuro cada vez mais remoto, adiando para sucessivos "amanhãs" o que podemos e devemos fazer hoje. Parte dos nossos problemas e contradições está nesta nossa inadequada colocação no tempo. Nunca estamos preparados para encarar, com a determinação devida, o "aqui e o agora".

O escritor e conferencista norte-americano Dale Carnegie, conhecidíssimo por seus livros, entre os quais o mais famoso e citado é "Como fazer amigos e influenciar pessoas", escreveu, em um artigo publicado na revista "Seleções do Reader's Digest", na década de 60: "Nós todos, neste momento preciso, achamo-nos no ponto em que se encontram duas eternidades --- a do passado e a do futuro. Não podemos, de maneira alguma, viver dentro de uma ou de outra, nem por uma fração de segundo; e, se tentarmos fazê-lo, podemos destruir-nos física e mentalmente. Portanto, contentemo-nos em viver as únicas horas que podemos, isto é, de agora até a hora de deitar".

As tarefas que nos compete realizar não podem, e nem devem, ser adiadas sob qualquer pretexto. Em geral somos dispersivos no uso de nossa energia e interrompemos trabalhos inadiáveis --- um livro, um quadro, uma sinfonia, uma invenção, uma ação construtiva --- com a desculpa da necessidade de descanso. Para descansar, no entanto, teremos toda a eternidade. É possível que não tenhamos um amanhã.

Nossa vida pode ser comparada a um intrincado labirinto, onde caminhamos, por entre o emaranhado de inúmeras passagens, à procura de uma saída. Atrás de nós, segue a morte, nos procurando para nos levar. Viramos para um lado, embricamos por outro, fazemos zigue-zagues para cá, para lá, até que cruzamos com nosso implacável carrasco. E então...Adeus aos sonhos e ilusões. O que foi feito, muito que bem. O que não, jamais será realizado por nós.

O tempo é o nosso mais precioso capital, que não podemos desperdiçar. Gastamos horas em demasia com lazer ou conversas fiadas e ações inócuas, sem nenhuma serventia. E quando não conseguimos realizar o que pretendíamos, lançamos a culpa nos outros: no destino, nas circunstâncias, na falta de oportunidades.

Nunca reconhecemos que fomos dispersivos, indisciplinados, incompetentes, irresponsáveis e, portanto, os arquitetos dos nossos fracassos. Todos viemos a este mundo com algum objetivo, que é preciso identificar, para que este possa ser cumprido.

Tempos atrás, li um instigante texto de Stephen Leacock, que resume com precisão tudo o que foi dito acima. Constata: "Quão estranha essa procissão da vida! A criança diz: quando eu crescer. Mas que significa isso? Já crescido, o menino diz: quando eu for moço. E depois de moço, diz: quando eu me casar. Mas, afinal de contas, que significa, nesse caso, o matrimônio? A idéia muda para: quando eu me aposentar. E, por fim, quando chega a aposentadoria, ele olha para trás, para o trajeto percorrido; um vento frio parece varrer o terreno; sem saber como, ele o perde de vista e tudo se vai. Muito tarde aprendemos que a vida consiste em viver, na substância de cada dia e de cada hora".

O poeta Carlos Nejar, com a sensibilidade dos que intuem a verdade, nos lega estes belíssimos versos: "Testamento não fiz/mas minha competência/é estar na vida/mesmo não estando,/é ser por excelência/o muito que ela ensina/e o pouco que ela aceita". Pena que raramente estejamos dispostos a aprender com essa mestra eficaz, mas absolutamente implacável com os que são incapazes de captar o óbvio.

* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

Um comentário:

  1. Conversar é uma das coisas que ainda me dão prazer. É o momento principal do dia. Apenas que não gosto de falar com todos. Tenho cá minhas preferências e estando conversando com elas, acho que ganho tempo.

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