quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Vítimas do fanatismo

* Por Pedro J. Bondaczuk

O suicídio coletivo de 53 dos membros da seita Ordem do Templo Solar – 48 em duas cidades da Suíça e cinco no Canadá –, em fins do século XX. Tido e havido como sendo o “das luzes”, mostra os perigos do fanatismo, quer este seja político, quer esportivo, quer religioso ou de outra ordem qualquer. Revela, sobretudo, o quanto são vulneráveis, psicologicamente, determinadas pessoas, que não contam com uma estrutura firme de caráter e desconhecem a beleza da vida.

Por conseqüência, não a valorizam. Preferem anular-se. Fogem desse maravilhoso desafio e fantástica aventura. Optam por “não ser”. São presas fáceis de malucos e espertalhões. E não se trata de uma questão de cultura, mas de estrutura mental.

O escritor Humberto de Campos, na “Antologia da Academia Brasileira de Letras”, observa: “Há em cada vida de homem sombrios desvãos, úmidas e recônditas grotas cheias de perfume e mistério. Aí moram os pensamentos que, por melindrosos demais, não se querem ver ao sol; as impressões que se não descrevem e os nomes que, no dizer de Saint-Beuve, ‘il faut bénir et taire’”.

Somos seres racionais, com liberdade para escolher entre vários caminhos. O que temos é que exercer plenamente essa racionalidade e optar entre o certo e o errado, entre o bem e o mal, entre a sublimidade e o horror. Ninguém deve, ou pode, fazer isso por nós.

A maioria das pessoas assusta-se com a complexidade dos relacionamentos humanos. Algumas, apavoram-se diante da vida e recolhem-se a uma covarde alienação. Aceitam passivamente a realidade e, quando muito, gastam seu tempo em queixas sobre a maldade imperante, sobre as injustiças e velhacarias e sobre tudo o que as desagrade ou que não entendam.

Mas não fazem nada para modificar o mundo para melhor. Ou pelo menos para influir positivamente no círculo ao seu redor, no ambiente em que vivem. Esperam que os outros façam essas mudanças por elas. Contentam-se com o papel de “caudas”, ao invés de serem cabeças. Temem expor-se ao ridículo e acabam se tornando ridículas ao seguir os outros.

São estas pessoas vulneráveis à influência de falsos líderes, de profetas de polichinelo, de caricatos e risíveis “gurus”, que quanto mais estapafúrdios se mostram, mais seguidores conseguem arrebanhar. Tais indivíduos, porém, são dignos de piedade e de atenção e não de reprimendas. Constituem-se em vítimas indefesas de malucos triunfalistas, de celerados oportunistas e de megalomaníacos que se julgam divindades. São o lado frágil da espécie humana que precisa ser protegido.

É necessário que se busque, sempre e incansavelmente, o sentido da vida, porquanto esta possui um, com certeza. É preciso que se faça um permanente exame de consciência, um exercício de racionalidade. Requer-se, sobretudo, ação, positiva e incansável, para modificar uma realidade adversa.

Não importa se não conseguirmos mudar o mundo para melhor. O que ninguém tem o direito é de parar de tentar. Pois, como ressaltou o pensador norte-americano William James: “É somente nos arriscando hora após hora que conseguimos viver completamente”.


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

Um comentário:

  1. O fanático tem medo de pensar, daí considerar suas divindades superiores, e seus dogmas irrevogáveis.

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