sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A conversa

* Por Rodrigo Ramazzini

- Olá, amigo coração!
- Oi, estimado cérebro.
- Por que essa tristeza, amigo coração? Por que você lacrimeja?
- Choro por um amor que não voltará mais!
- No amor nada é definitivo. O que hoje é nunca, amanhã pode ser sempre...
- É nesta esperança na qual me agarro, amigo cérebro. Apesar de saber da sua real impossibilidade.
- Você já lutou com todas as suas forças?
- Esgotei as minhas energias declarando os mais sinceros sentimentos...
- E por que esse amor não lhe quer mais, amigo coração?
- Porque não era um amor sincero...
- Ainda assim você insiste?
- É pelo conforto...
- Conforto?
- É amigo cérebro! Conforto por ter ao menos uma vez me sentido amado...
- Não entendo!
- Você é muito racional, lógico, amigo cérebro!
- Pode ser! Pode ser! Mas não entendo por que sofrer tanto por algo que não retornará?
- É o sentimento!
- Um sentimento do passado, amigo coração.
- Sim! Do passado...
- O passado serve para mostrar-nos o caminho do presente rumo ao amanhã.
- O passado ainda é muito presente em mim...
- E por que você não parte para outra, amigo coração?
- Porque quando encontro alguém, logo procuro as características, as semelhanças do velho amor, por isso nunca acho um novo...
- Desculpe, amigo coração, mas isso não é burrice?
- Pode ser, amigo cérebro, pode ser! Mas eu penso como um coração...
- Pra mim, parece lógico! Se não sou mais amado, coloco a minha roupa de festa e parto para outra...
- É isso que faço amigo cérebro! Só que uso máscaras e fantasias, nunca sou eu mesmo... Quando ninguém me vê, na solidão do meu quarto, choro de saudade...
- Só existe um alguém que pode ajudá-lo, amigo coração.
- Quem, amigo, amigo cérebro?
- Você mesmo!
- É verdade! Mas eu...
- Tenho que ir amigo coração... Nossa dona acordou depois do mais recente pranto de choro. Pense no que lhe falei!
- Refletirei amigo cérebro! Volte para continuarmos a conversa.
- Voltarei. Prometo! Tchau!
- Tchau!

Cérebro: (Preciso andar mais com o amigo coração, aprender sobre esse tal sentimento, esse tal amor).

Coração: (Tenho que conversar mais freqüentemente com o amigo cérebro. É a sua racionalidade que me falta...).

* Jornalista e contista gaúcho

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