quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Odiar não, compartilhar sim!

* Por Mara Narciso

Nágila Almeida, editora da Revista Plataforma, escreveu no Facebook que o site estava parecendo um serviço de previsão do tempo. Aconteceram os terremotos e todos postaram e comentaram, depois veio o calor intenso, e muitos mencionaram os 40º, e daí choveu e todos falaram da mesma coisa. De fato, Montes Claros começou sua Primavera com nota dez, e teve uma madrugada com chuva forte, quase sem avarias. Apenas a Rádio Unimontes FM amanheceu fora do ar, e não pude ouvir o “Programa Nossa Arte Nossa Gente”. Então fui para a Rádio Educadora AM ouvir Benedito Said e o “Comando das Sete”.

Não mudei a sintonia, e hoje de manhã, liguei o rádio e estava passando a Santa Missa, numa celebração na Igreja São Norberto. Fiquei ouvindo os cânticos numa voz feminina muito suave. Depois aconteceram as leituras e então o padre fez seu sermão. Falava da competitividade desenfreada na nossa sociedade, algumas vezes acontecendo dentro da família, naquela ânsia de cada qual querer ser o melhor, querer poder mais. Convidava os fieis a praticar o amor ao próximo e o compartilhamento, criticando o ódio entre pessoas, que algumas vezes não se suportam e não conseguem olhar nos olhos da outra.

A intolerância, irritabilidade e impaciência estão em toda parte. Gente está com pressa e quer ter razão. Não defendem seus pontos de vista apenas. Precisam estar certas, enquanto os outros devem estar errados. Querem não só ganhar a discussão, mas também convencer aos demais quanto às suas mais íntimas convicções. Há uma agressividade exacerbada, sem freios nem educação em todos os cantos. Nas redes sociais, não é possível ter uma opinião diversa, que já vem pedrada. Boa política pessoal é não fazer a tréplica. Mais útil, e muito mais civilizado.

Na política propriamente dita, a virulência das acusações sem provas predomina no cenário. É de praxe mentir, ofender, acusar, generalizar, sem nenhum respeito ao ser humano. Posicionar-se, sim, mas sem agredir ao outro. Não estamos falando de santos, mas de políticos, e cada um tem sua manha, seu estilo, sua história, seus princípios. Ou até a falta deles. O interesse é do eleitor, sendo bom verificar a informação em mais de uma fonte. É preciso lembrar que as pessoas não são seres estáticos, mas mutantes e o que é bom hoje poderá não sê-lo amanhã e vice-versa.

Outro aspecto da competitividade desleal é a disputa dentro das famílias. Por desagradável que seja o tema, todos sabem que até na sua família há os que não são tão bons quanto gostaria que fossem. Quando os filhos são menores, e se reúnem à mesa do jantar, junto com os pais, uma aparente paz reina. Quando são adultos, as divergências vão crescendo e se multiplicando. Porém é possível, em momentos importantes como casamentos ou nascimento de filhos, os irmãos esquecerem as diferenças. Então, um deles ou ambos os pais morrem. O que se passa? Começam as batalhas, ou crescem, quando já existiam. É vexatório, e poucos ousam admitir, porém, quando há divisão de bens, coisas que não pertencem a ninguém, mas que “tomamos emprestadas dos nossos filhos”, como disse uma vez Gilberto Gil, pode-se esticar a mão para um cumprimento e ficar com ela no ar. Não há desfeita maior do que um irmão ou primo não ter seu cumprimento respondido, e sim ver o rosto do outro virado para o lado, num insolente não.

Esse tipo de gesto não é nada diante das maldades que muitos seres humanos, que sequer merecem ser agrupados em tal espécie, são capazes de fazer. A TV e seus noticiários ruidosos em demasia, nos entopem de maus exemplos, de maldades tais, que nos deixam enojados. Dizem que as novelas ensinam o mal às pessoas, mas, embora saiba que os folhetins emocionam bem mais que o noticiário, sendo aqueles ficção e este real, acredito ser o oposto. O mundo real é que dá inspiração aos novelistas. Aqui neste território, não se esgotam os horrores, dando munição interminável para histórias fictícias. Assim, por piegas que seja, é bom que se lembre que a humanidade prosseguirá melhor seu caminho ceifando o ódio, plantando amor e compartilhando. Embora muitos sejam contra, porque não querem perder nada do que possuem, nem mesmo uma única das suas mordomias. Utópico? Tente começar dentro da sua família a sessão de respeito e amor. Quem sabe, sem hipocrisia, no próximo Natal já seja possível todos se sentarem à volta do mesmo peru?

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade” – blog http://www.teclai.com.br/

7 comentários:

  1. Texto oportuno, muito bem abordado e sumamente bem escrito. Muito bom! Recomendo a todos.

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  2. Faço minhas as palavras do Pedro, nosso experiente e abalizado editor. Grande Mara, parabéns por mais esta boa lavra.

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    1. Agradecida, Marcelo, pela sua presença constante. As pessoas não tiram a faca nem a pedra da mão. Explosões sem sentido, respostas ásperas acontecem a todo o instante e sem motivo. Estamos perdendo a civilidade.

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  3. A intolerância virou moda? tenho pensado nisto ultimamente, na fila, no transito, na sala de aula... Parece que estamos num processo irreversível contrário de evolução...

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    1. Concordo com sua obeservação, Adailton. Estamos em regressão. Deveríamos praticar a paciência e a tolerância. Quem sabe voltaremos a algum ponto de antes?

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  4. Amigas não estão conseguindo postar e enviou e-mail ou comentou no Facebook. Tomo a liberdade de copiar e colar aqui, em atenção a Sayonara Toledo e Celamar Maione.


    Mara,
    Muito bom seu artigo.
    A intolerância está em toda parte. Fruto do egoísmo, do orgulho e da vaidade.
    Ninguém quer ouvir o outro. Todos querem falar.
    Até que nas Redes Sociais vejo bons debates. Na minha página sempre existe alguém para "trocar" uma ideia inteligente. Inclusive você, Mara Narciso.
    Sinal de que, o mundo, ainda pode ser salvo. Pelo menos, as pessoas, acredito.
    Que não seja pelo amor, mas pela educação e respeito, abrindo um pouco, mão do ego. Reconhecendo que o outro tem todo o direito de opinar.
    Talvez seja o início do amor...
    Quem sabe???
    Celamar Maione

    Olá, Mara! Não consegui comentar seu texto no blog, então tomo a liberdade de postar aqui meu comentário. Espero que não se importe.
    "Muito bom, Mara. Parece que a suavidade perdeu o lugar nesse mundo cheio de disputas. Espero que todos possamos rever nossas posturas e tentar amenizar atitudes menos felizes. Abraço!"
    Sayonara Toledo
    Obrigada meninas, pela gentileza do comentário.

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