domingo, 23 de setembro de 2012

Dois por um centavo

* Por F. Scott Fitzgerald

Um novo tempo, uma nova e inesperada ação. Hemmink contestou a situação e saiu da cidade. Apesar do falatório, das acusações escrupulosas acerca do "roubo" de 1 centavo, ele conhecia sua índole, não se prendeu aos dogmas morais e sem dar satisfações, tomou o trem que rumava para o norte. Era o seu norte, cidade de Atlanta, o início de uma longa batalha para realizações pessoais.

O nosso herói jamais retornou à cidade natal. Nem queria saber as condições em que ficaram seus afetos. Desculpar-se pelo ocorrido naquele banco, diante de Deems, um vice-presidentezinho asqueroso, vil e intolerante? Jamais!!! Tinha ainda a esperança de vê-lo derrotado, batendo à porta de sua próspera empresa para pedir um emprego. É. Nosso protagonista agora é um capitalista e carrega em si a ganância torpe dos afortunados. Até já se esqueceu de onde saiu. Aliás, para quê lembrar? Nem mesmo quando o seu sócio, o Sr. Abercrombie, outro que por acaso e nada no bolso fugiu da lama quente do Alabama.

Este é um episódio interessante. Enquanto ele, Hemmink, um homem responsável, que com recursos poupados duramente, saía da cidade como um bandido de baixa categoria, Abercrombie se instalava ao seu lado, no assento do trem, com a roupa do corpo e nenhum vintém, era um vagabundo sem expectativas de vida honesta, porém, o chamado para uma cidade maior e exatamente ter achado o centavo que faltava para a passagem, o fez seguir sem culpas ou delongas.

O dinheiro determina a vida das pessoas. A falta dele também. O excesso não permite enxergar o que ficou abaixo dos pés e a falta, do contrário, permite uma visão do que é necessário ter para sair da condição precária. E, no contexto capitalista, não importa os meios, mesmo que se abandone uma boa reputação ou lese aquele que está menos afortunado.

• Escritor norte-americano, um dos integrantes da chamada “geração perdida”

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