domingo, 16 de setembro de 2012

Amizade nascida da mútua admiração

A história sobre como surgiu o Prêmio Nobel, ou seja, de como o inventor da dinamite decidiu doar, em testamento, parte de sua fortuna para premiar, anualmente, pessoas consideradas benfeitoras da humanidade nas mais diversas atividades, é como uma novela. Ou seja, está repleta de personagens e de enredos paralelos, aparentemente independentes, contudo complementares, pois se juntam, todos, no final. Figura destacada nesse contexto foi a baronesa Bertha Von Suttner. Todavia, custou-lhe sacrifícios, decepções e inúmeras peripécias para ter o direito legítimo ao título nobiliárquico que ostentou pelo resto da vida, após conquistá-lo.

Em texto anterior, narrei, de forma resumida, a origem e a juventude dessa notável mulher. Destaquei sua passagem pela mansão do Barão Von Suttner, em Viena, como governanta. Revelei sua súbita paixão pelo filho mais velho do nobre austríaco, Arthur, e a férrea oposição da família a esse romance, para profundo desgosto dos dois apaixonados. Pressionada pela família do rapaz, Bertha demitiu-se do emprego e viu-se, subitamente, desempregada.

Apesar da forte oposição ao romance de seu filho com a governanta, a velha baronesa Von Suttner nutria forte simpatia por sua empregada, na qual via muitas virtudes e decidiu ajudá-la. Não queria que ela se visse em dificuldades, sem meios de se sustentar. Bondosamente, mostrou-lhe um anúncio de jornal, que viria a mudar a sorte de Bertha. Dizia: “Cavalheiro idoso, rico e educado, residente em Paris, procura uma senhora também madura, com conhecimento de línguas, para sua secretária e governanta”. E ela não teve dúvidas. Resolveu batalhar por esse novo emprego, antes mesmo de conhecer seu potencial patrão. Estava ali dupla oportunidade para resolver seus problemas. Caso fosse admitida no emprego, para o qual se sentia plenamente preparada, poderia prover, com dignidade, seu sustento e, com a distância tinha a esperança, quem sabe, de aplacar a mágoa da separação de seu amado.

Candidatou-se, pois, à vaga e embarcou de imediato para Paris, após receber resposta à carta que enviou ao autor do anúncio. A correspondência vinha assinada por um tal de Alfred Nobel, que a baronesa lhe informou se tratar do inventor da dinamite. Bertha seguiu para “Cidade Luz”, mais especificamente, para o endereço indicado. No momento da entrevista, ambos se surpreenderam um com o outro.

Nem o autor do anúncio correspondia à descrição nele contida, de “cavalheiro idoso”, nem a governanta era, exatamente, o que era solicitado, ou seja, “mulher madura”. Ambos eram ainda relativamente jovens. Alfred era um homem de 43 anos, com espessa barba negra e cuja aparência denotava ser dotado de enorme vitalidade. É verdade que tinha certo ar de tristeza, até mesmo de abatimento. Mas era extremamente cortês e cavalheiresco.

Bertha, por seu lado, era mulher magnífica já a partir da aparência. Nos seus 33 anos de idade, tinha um corpo escultural, de linhas perfeitas, de fazer inveja à maioria das adolescentes bonitinhas. Seus traços eram delicados, de suave e rara beleza. Seus olhos, grandes e negros, sugeriam mistério e exerciam profunda sedução. Brilhantes, pareciam sorrir. E quando ela sorria, não apenas seu rosto, mas tudo ao redor parecia se iluminar. Era dessas mulheres pelas quais é impossível não se apaixonar. Se o inventor da dinamite se apaixonou ou não por ela, nunca se soube e jamais se saberá. É possível que sim. Mas...

Desacostumado à vida social, Alfred comportava-se com excessiva cerimônia. Não conseguia agir com naturalidade, de maneira informal, em ocasião alguma. Não por arrogância, sejamos justos. Era tímido. Isso tudo, porém, não impediu que convidasse sua nova contratada para almoçar num dos mais sofisticados, famosos e caros restaurantes de Paris. O objetivo era o de propiciar melhor conhecimento mútuo e fora do austero ambiente de trabalho. A conversa entre ambos fluiu naturalmente e durou horas e mais horas. A boa impressão foi fulminante e recíproca. Conversaram sobre tudo, sobre arte, economia, política, a vida, o futuro da humanidade etc. etc.etc.

O inventor encontrou na bela senhora ouvinte atenta e interlocutora intelectualmente preparada e à sua altura. Afinal, suas observações eram todas judiciosas, pertinentes e serenas, sem qualquer afetação. Eram espontâneas e naturais. Ambos causaram profunda e recíproca impressão positiva. Isso poderia desembocar em um romance. Não desembocou. Resultou, isto sim, em um relacionamento mais profundo e duradouro ainda: em uma amzidade que durou a vida toda de ambos.

Falta, porém, revelar ainda o que certamente desperta a maior curiosidade do leitor. Ou seja, como Bertha veio a se tornar, finalmente, a baronesa Von Suttner? É uma história mirabolante, e fascinante, posto que da vida real (que aliás, como Fedor Dostoievski saalientou, um dia, é muito mais incrível e inverossímil do que a mais irreal e absurda das fantasias). Como ocorreu o reencontro entre o casalzinho apaixonado? Recorde-se que os “pombinhos” estavam separados, um do outro, por milhares de quilômetros de distância, ela em Paris e ele em Viena.

Bem, sem querer fazer suspense, esse é um episódio tão marcante, que merece capítulo a parte. E me proponho a resumi-lo, mas não hoje, aqui ou agora. Provavelmente o farei amanhã. Por ora, deixo por conta da fantasia de cada um dos leitores imaginar como tudo aconteceu. Que tal o desafio?

Boa leitura.

O Editor.

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Um comentário:

  1. Em uma vida se vive muitas vidas, e algumas delas fogem do comum. Essa senhora parece ter vivido várias delas, em locais e companhias bem diversas. Vejamos amanhã.

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