quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Pátria de luvas

* Por Fernando Yanmar Narciso

O mundo da boa forma adora girar em torno de modismos. Quem vai à academia deve se lembrar do Bodypump, onde eles uniam a energia frenética da aeróbica com a força bruta do halterofilismo. Imagine-se erguendo uma barra de 10 Kg por uma hora, enquanto pula ao som de clássicos do bate-estaca, martelando nos ouvidos a uns 500 decibéis. E depois, lembre-se que precisa voltar dirigindo para casa... Não é um dos exercícios físicos mais bem ponderados, concordam?

E também há um dos exercícios mais bobos já criados pelo homem: Spinning. Ratos de academia como eu hão de concordar que não há coisa mais tediosa que pedalar na bicicleta ergométrica. A menos que o instrutor esteja com um tridente em suas costas, o aluno acaba trapaceando e pedalando menos que o exigido. Então resolveram enfeitar o exercício ergométrico, enclausurando os alunos num quartinho apertado, numa pedalação supersônica cadenciada pelo instrutor, e pra garantir que não haja trapaças, colocam o tradicional bate-estaca no último furo e um show de luzes metralhando em seus olhos. Os alunos devem se sentir morando numa árvore de natal.

Apesar de continuarem existindo, essas modalidades aeróbicas já não são mais o centro das atenções daqueles que querem o corpão de praia, mas acham a academia um saco. Há seis meses voltei a praticar muai thay, o boxe tailandês. Um ou dois anos atrás, ainda parecia arte marcial de gueto, poucos praticavam. Mas agora encontro a sala de treinamento quase sempre abarrotada de gente. Não há uma quantidade homogênea de alunos: Hoje podem ser oito, amanhã quase 30. Mas o que mais impressiona é que quase todos os praticantes, pelo menos em minha academia, são mulheres, e elas demonstram mais empenho, se graduando antes que os marmanjos. É um quadro um tanto intimidante para o sexo oposto...

Antes do boxe tailandês, a arte marcial modinha foi por muito tempo o Jiu Jitsu. Carlos Massaranduba e Montanha adoravam ficar se engalfinhando no tatame enquanto perseguiam ferinamente todos que “duvidassem de sua masculinidade” mais que eles mesmos.

Mas a arte marcial do momento é o MMA, Ultimate Fighter, o popular vale quase tudo. Basicamente, pegaram golpes de kickboxe, karatê, muai thai, judô luta-livre e jiu-jitsu, embrulharam num mesmo pacote e criaram um fenômeno de audiência, que levou uma década para ser levado a sério. Hoje já é o 2º esporte favorito do Brasil, apesar de muitos dizerem que MMA não é esporte. Neymar? Hulk? Romarinho? Leandro Damião? Quem quer saber dessa gente?

Anderson Spider Silva, vulgo Sebastian da C&A, é o novo herói nacional. Ídolo da Veja, do Terra, da Globo, da Sportv, da Planet Sex... Aparentemente imbatível, fãs mais exaltados dizem até que ele fez pelo MMA o que Muhammad Ali fez pelo boxe e José das Couves fez pelo cuspe à distância.

Minha opinião? Bem... Numa noite de sábado estava numa pizzaria, quando estenderam um telão no alpendre para passar o auto-intitulado acontecimento esportivo do ano: A luta pay-per-view do Anderson contra o falastrão Chael Sonnen. A luta dele devia começar só lá para as 11 da noite, mas antes dela aconteceriam mais seis- SEIS!- lutas. Agora, imagine-se pingando ketchup em sua mezzo portuguesa- mezzo pepperoni enquanto assiste a um gigante encurralado na quina do octógono enquanto outro gigante literalmente faz o que quer com ele, com sangue jorrando para tudo que é lado? A conta, por favor!

Confesso que ter “perdido a virgindade” no mundo do MMA me trouxe amargas lembranças... De repente, vi o octógono se materializar na forma de um banquinho de areia e eu, com uns cinco anos, no canto dele, enquanto os temíveis valentões do colégio me faziam ficar agachado com a cara na areia e me enchiam de murros e pontapés, até que viesse o disciplinar apartar o protótipo de Farra do Boi e mandar todo mundo pra detenção. Foi exatamente isso que vi no tal evento esportivo do ano, um bullying televisionado! Os guerreiros passam mais tempo se embolando no chão, ou agachados no canto do octógono que tentando mostrar o melhor de sua técnica. Há alguns especialistas prevendo que, em pouco tempo, o MMA pode acabar virando um lance tipo o Telecatch Reis do Ringue, com muita marmelada e teatrinho, se a mídia continuar nos bombardeando tanto com esse pastelão de sangue.

Sabem o que eu vou ganhar depois desse artigo? PORRADA!

*Designer e escritor. Site: HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. Vai por que escreveu muai tai de duas maneiras. Qual é o correto. Ficou bom e cheio e gracinhas, como é do seu feitio.Divertido.

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