quarta-feira, 27 de junho de 2012




* Por Sayonara Lino


As paredes escureceram um pouco, alguns móveis mudaram de lugar. Há desenhos espalhados pela casa, muitos livros, fotografias antigas e recentes.

Há flores, há amores e rancores, há litros de vinho e de mágoa.

Há gargalhadas, gritos, gemidos, sussurros, beijos, afagos. Há contradição.

Há tempos não o vejo sorrir, parece que está em off, flanando. Eu aqui, fervilhando.

Há quem não veja além, há surdos ouvindo vozes internas, há cegos de toda natureza, há mudos que urram, há falastrões ocos que repetem, repelem...

Há outros ao redor, há aquele ali que olha para cá buscando algo que parece perdido há tempos e não retornará, há a amargura do décimo quinto andar, há a cama, a mesa, o altar.

Há confusão, caos, comédia e drama, há choro em dias ensolarados e alegria nos dias escuros. Há tanto de tudo e ainda falta muito. Quanta felicidade nos aguarda no porão.


• Jornalista, fotógrafa e colunista do Literário

7 comentários:

  1. Apreciei a imagem da felicidade no porão, no escondido, num lugar menos nobre. Boa sugestão. Ela está em locais inusitados, e você apontou o caminho poeticamente, Sayonara.

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  2. O texto tem um quê de ritmo musical...E me levou a ter vários "insights" enquanto passeava por ele... Cheguei até o porão da minha alma.
    Abraços.

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  3. Sempre haverá...há os que enxerguem outros
    que reneguem.
    Beijos Sayonara.

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  4. Viajei no seu texto. Belo,intrigante e arrebatador! Um show de percepções imaginárias. E o desfecho é alucinante.
    Parabéns! Abração

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  5. "Há sempre um copo de mar / para um homem navegar" - escreveu Jorge de Lima -
    "Há tanto de tudo e ainda falta muito. Quanta felicidade nos aguarda no porão."
    Parabéns, Sayonara!
    Beijos

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