domingo, 24 de junho de 2012

Distrações

* Por Rosana Hermann

Me identifiquei totalmente com Denise Fraga contando sobre suas distrações. Passei exatamente pela mesma cena que ela. Parada num semáforo vermelho, registrei apenas que eu estava aguardando uma mudança. E me distraí vendo a paisagem. Meus olhos boiando sem rumo, foram capturados pelo relógio digital gigante. Ali fiquei, contemplando o horário. E assim que o relógio mudou da hora para a temperatura, avancei o sinal. E quase bati o carro na avenida movimentada. Foi exatamente a mesma coisa que aconteceu a atriz. É aquele tipo de idiotice que quase tem um nexo.

Ela contou também que sai de casa com o telefone sem fio dentro da bolsa. Isto, eu nunca fiz, mas já guardei coisas de papelaria na geladeira e coisas de geladeira no escritório. O bloco de notas conservou-se bem em baixas temperaturas. Já não se pode dizer o mesmo dos tomates na gaveta.

Uma vez, gravando uma matéria como repórter, peguei uma ameixa numa fruteira e coloquei-a na bolsa. E ali ela ficou. Em algum outro dia, troquei de bolsa e retirei tudo de lá de dentro. Exceto a ameixa. Não quero nem contar o que senti quando, ao tentar usar aquela bolsa novamente, enfiei a mão no fundo e encontrei a ameixa quase um mês depois.

Mas a pior distração aconteceu quando voltei a gravar entrevistas em externa depois do meu segundo parto. Minha filha, que era um bebê de um mês, ia comigo em todas as gravações. A filha, a babá, a bolsa de fraldas, tudo. Eu, entre uma pré-entrevista e a gravação, amamentava minha filha no peito. Era um tal de bota o microfone na boca do convidado, volta bota a filha no peito direito, bota o microfone pro convidado responder outra pergunta, bota o bebê para mamar no peito esquerdo. Uma hora eu me atrapalhei toda e quando me vi botando o microfone pra minha filha responder entrei em choque, só de cogitar a possibilidade de ter amamentado o presidente da empresa.

Hoje, adicionei mais um item para minha coleção de gestos avoados. Nunca uso bolsinhas pequenas de alça longa, mas não sei por quê, resolvei levar uma dessas hoje para o trabalho. Entrei no carro, coloquei a bolsinha atravessada no tórax, liguei o motor e saí. Só quando vi o guarda anotando algo no bloquinho é que percebi que ao atravessar a alça da bolsa, achei que tinha colocado o cinto de segurança. Sem cinto, temo ter sido multada.

Algumas pessoas dizem que é estresse, que é agitação mental, que é o HD precisando de um defrag. Pode ser tudo isto. Só sei que é uma coisa que acontece. E se na hora parece trágico, depois, certamente vira uma história cômica. Como um dia, quando eu estava varando a madrugada numa ilha de edição na TV Cultura, junto com uma colega de trabalho. Eram muitas fitas em beta. A 4756, a 3257, a 9987 e mais uma pilha. E cada pouco, a gente tinha que ligar para a videoteca e pedir mais uma fita e mais outra. Entre anotações de fitas aqui e fitas ali, e telefones de ramal para todo lado, aconteceu: liguei para o número da fita. E fiquei horas tentando até que alguém atendesse. Mas nada aconteceu. A fita, já tinha ido pra casa dormir. Coisa que eu deveria fazer exatamente agora.

*Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.

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