segunda-feira, 21 de maio de 2012

Pedido de demissão


* Por Flora Figueiredo

Por não saber fazer o bife perfeito,
por não pregar o botão na camisa,
por não manter o sapato engraxado,
por ser a companheira insuficiente,
impertinente,indecisa,
por não saber me comportar quando ao seu lado

eu me retiro
E se confiro o saldo apurado,
só me entristeço:
por ver o acorde no violão estagnado,
o poema de amor interminado,
o romantismo que hoje já não se admite.
E no lugar que agora eu não mereço
fica uma vaga a quem quer que se habilite.
Não fica mágoa,
não deixo sombras,
nem endereço.


• Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida.

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