quarta-feira, 18 de abril de 2012



Metade

* Por Flora Figueiredo

Quando vislumbro o mundo
pelo avesso,
paro, pondero
e decido honestamente
que mereço.
Quando espero
que a vida amanheça adocicada,
descubro de repente
que não fiz nada
pra ver isso acontecer.
Se Deus anda contraditório,
provavelmente há de ser
porque desacreditei
de seu último Ofertório
e me insubordinei.
Mas, se acaso meu amor anda malvado,
eu desatino e não aceito:
é impossível viver metade de um destino
com meio coração dentro do peito.


Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida.

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