segunda-feira, 30 de abril de 2012

Ela


* Por Alberto Cohen


Ela, inesperadamente,
chegou sem mala e sem rede,
modificou minha sala,
pôs uns quadros na parede,
desarrumou documentos,
colheu flores na varanda
e um fiado na quitanda,
recitou Carlos Drummond.
Invadiu copa e cozinha,
expulsou a cozinheira,
emprestou sal e farinha,
derrubou a farinheira,
fritou comida chinesa
com gosto de calabresa,
deu o banquete mais farto.
Queimou incenso no quarto,
postou-se em frente ao espelho,
despiu-se bem lentamente,
dançou a dança do ventre,
pegou meu lado da cama,
foi namorada e mucama,
fez-me rapaz novamente.
Tomou banho de chuveiro,
pediu outro sabonete,
molhou o banheiro inteiro,
cantarolou "Construção",
debochou de minhas toalhas,
juntou suas pequenas tralhas
e partiu como chegou,
deixando a casa a seu jeito,
flores, quadros, documentos,
a confusão no meu leito,
aquele incenso suspeito,
a notinha da quitanda,
o perfume de lavanda,
tudo inesperadamente.


• Poeta e escritor paraense

2 comentários:

  1. Imagino que também a confusão em seu peito, a julgar pelo poema e desalinho externo. Claro, caso seja caso pessoal.

    ResponderExcluir
  2. Deu uma vontade de voltar....rssrrsrs

    ResponderExcluir