domingo, 25 de março de 2012




Dimensões infinitas

A Dra. Mara Narciso, de Montes Claros – que considero uma das melhores e mais preciosas amigas que tenho, amizade esta conquistada graças ao “milagre” da internet, que nos aproximou, mesmo sem jamais termos nos visto pessoalmente e sequer trocado breves palavras ao telefone – enviou-me recentemente, por e-mail, um vídeo precioso, magnífica aula de astronomia. Trata-se de inestimável presente, desses que os amigos nos brindam por conhecerem nossos gostos e peculiaridades e que nos emocionam, por falarem diretamente à nossa sensibilidade ou, (expressando isso de forma poética) à nossa alma.

Sempre fui fascinado por astronomia, ciência antiqüíssima, praticada com seriedade e competência já em passado remotíssimo, por caldeus, chineses e cá, nas Américas, pela civilização maia, entre tantos outros povos, sem que nenhum deles dispusesse dos miraculosos instrumentos óticos de que dispomos hoje, frutos da nossa avançada tecnologia.

Gosto de contemplar as estrelas, exercício delicioso que faço há muitos e muitos anos, desde a tenra meninice, sempre com o mesmo deslumbramento, posto que com atitudes mentais diferentes, compatíveis com cada idade que passei. Quando criança, via, assombrado, essa miríade de luzes com o olhar do precoce poeta e dava asas à fantasia, “viajando”, mediante o democrático recurso da imaginação, aos mais distantes e inacessíveis recantos do universo. Adulto, aprecio esse espetáculo com a visão do filósofo, posto que pífio e canhestro, e medito, medito incansavelmente, na ingente busca, na vã tentativa de responder os infinitos “porquês” da vida, que jamais serão respondidos e muito menos esclarecidos, tantos que eles são.

Gosto tanto de astronomia que escrevi um livro de ensaios, que considero a “menina dos meus olhos”, que intitulei “Dimensões infinitas” e cuja publicação se tornou ponto de honra para mim. Não se trata, óbvio, de nenhum tratado dessa nobre e antiga ciência, pois não é a minha especialidade. Não domino os cânones dessa disciplina. Não passo de mero curioso, posto que empolgado com astros e estrelas.

Já fiz algumas tentativas para publicar esse livro, mas não consegui, até aqui, interessar nenhuma editora. Não que fosse recusado por eventuais falhas e contradições no texto, ou por estar mal redigido. Não se trata disso. Antes se tratasse. É algo pior: essa obra foi recusada por algumas editoras sem que fosse sequer lida, mesmo que de relance, pelos responsáveis pela seleção do que é e do que não é publicável e sem nenhuma justificativa. Não me perguntem por que isso aconteceu. Jamais saberia dizer.

E por que faço, aqui, essa confissão, em um espaço tão nobre, destinado a reflexões mais sérias e profundas, que possam contribuir, de alguma forma, para que os leitores tenham visão mais exata da natureza e dos objetivos da Literatura? Eu não estaria abusando da condição de editor deste espaço, usando-o para fazer autopromoção? Provavelmente, sim. Peço-lhes, porém, humildemente, escusas por tamanho atrevimento.

Mas por que, então, ajo dessa forma? Por um motivo, sobretudo, prático. Temos, entre os seguidores contumazes deste espaço, representantes de algumas editoras. É a eles que se destina este texto, como uma espécie de desafio, na (remota) esperança de interessá-los na publicação desse livro que escrevi com tanta paixão e que, estou certo, será útil, de alguma forma, a quem eventualmente vier a ler tais reflexões sobre o micro e o macrocosmo e a condição do homem nesse contexto de prováveis infinitos extremos.

Estejam certos que o que me move não é nenhum arroubo de vaidade (embora, como todo artista que se preze, eu seja, igualmente, vaidoso), até porque, quem reflete sobre a imensidão e as maravilhas do universo e sobre a pequenez e a efemeridade humana não tem o direito de se entregar a esse tolo sentimento. E nem poderia. Também não sou movido por razões financeiras, as econômicas, de lucro, até porque a literatura, salvo raríssimas exceções, não rende expressivos (às vezes, nenhum) dividendos a ninguém.

Raciocinem comigo. Neste preciso instante, alhures, estão nascendo novas estrelas (algumas, milhares de vezes maiores que o nosso sol, que já não é pequeno ser comparado com a Terra). Neste mesmíssimo momento, outras tantas estão explodindo, após esgotarem o combustível que as manteve acesas por alguns bilhões de anos. Todavia, quando as luzes, tanto dos nascimentos quanto das extinções, chegarem até onde está nosso pequenino planeta azul, em milhões, quiçá bilhões de anos, este, certamente (assim como a estrela que lhe assegura a vida) sequer existirá, tamanhas são as distâncias que nos separam. E sabem o que é o mais notável de tudo isso? É o fato de seres tão pequenos, ínfimos, como são os homens, que poderiam ser comparados aos menores dos vírus se confrontados com essa imensidão, terem esse conhecimento, essa consciência, e aprenderem e refletirem sobre essa fantástica grandeza, provavelmente infinita.

Refletir a esse propósito é, não somente admirável, mas necessário. Oxalá todos os homens e mulheres fizessem desse exercício hábito diário, notadamente os que se julgam poderosos e invulneráveis e que, por isso, abusam de suas posições e exploram, humilham, oprimem, machucam e ate matam companheiros de espécie (e espécimes de milhões de outras espécies) por razões injustificáveis, que buscam, insanamente (ou cinicamente?) justificar. Vissem as imagens do didático vídeo que a Dra. Mara me enviou, feitas pelo telescópio orbital Hubble, fizessem a comparação dessas dimensões infinitas de astros e estrelas com as suas, tão ínfimas e ridículas, talvez caíssem em si e mudassem de postura. Talvez não, é verdade. Vã esperança...

Esses tiranos, ridículos e sanguinários, muitos travestidos de “estadistas”, não se dão conta de que são mortais. De que seu tempo de vida, (em média, digamos, de oitenta anos, se tanto) é como velocíssimo piscar de olhos, ou como o instantâneo ziguezaguear de um raio em noite de tempestade, pequeníssima, infinitesimal fração de segundo, comparado com o tempo universal. Que o que ficará deles serão só lembranças (se ficarem) e todas muito ruins, dignas de rápido esquecimento.

“Dimensões infinitas” (é minha esperança) breve deixará seu ineditismo e, como meu novo e querido “filho espiritual” que é, assim como os carnais, sairá pelo mundo a quixotear, como faz, há já algumas décadas, seu ingênuo e crédulo autor. E perdoem-me por mais esta (que, espero, não seja vã) tentativa de autopromoção.

Boa leitura.

O Editor.



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Um comentário:

  1. Sua sinceridade, Pedro, assim como a de Romário em recente entrevista nas páginas amarelas de Veja, desapontam pela crueza. Estar assim tão a vontade, chega a me fazer sorrir. Obrigada pela generosidade na menção do meu nome. É boa essa nossa amizade. É grande esse nosso universo, e o fato de pensarmos sobre a imensidão dele, nos faz um pouco maiores.

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