segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012



Reino de esperanças

* Por Alberto Cohen

E tudo que se fazia
no reino do Não-Se-Conta
era não pensar em nada
e falar menos ainda.
Nem sequer o povo ria,
já que o riso era uma afronta,
criminosa a gargalhada,
coisa de gente vadia.
O rei, o Grande Sisudo,
e a princesa Lindafeia,
não trocavam cumprimentos
porque a Lei não permitia.
Nesse reino surdo-mudo,
não mais que pequena aldeia,
foi parar um saltimbanco
a gargalhar de alegria.
O rei, o padre, a princesa,
transformou em anedotas
e a pracinha de repente
ficou mais clara que o dia.
Escorraçava a tristeza
virando mil cambalhotas,
quando chegaram soldados,
pois ser feliz não podia.
Mas era tarde, a cidade
estava contaminada
e toda a felicidade
há tanto tempo contida
no olhar do povo explodia,
a vida voltando à vida
no muito que se sorria.
A princesa Lindafeia
chamou-se Linda somente
e, libertando os cabelos,
dançou tornando a ser gente
nos braços do saltimbanco
que nem sequer conhecia.
O rei, o Grande Sisudo,
virou o bobo da Corte
e a multidão gargalhava
vendo-o, tolo e barrigudo,
tentando ser engraçado,
mais um bobo simplesmente.
O reino desencantado
tornou-se o portal do riso,
do canto, das livres danças,
fazendo todos crianças e,
o que mais era preciso,
teve seu nome mudado
para Reino de Esperanças.

• Poeta

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