domingo, 25 de dezembro de 2011







Hora de planejar

Caríssimos leitores, bom dia.
Passada a parte principal da festa de Natal, que é a tradicional ceia em família, embora possivelmente muitos de nós ainda estejamos de ressaca por abusarmos do vinho, mesmo que importado (regalia que o dólar baixo nos permite há já algum tempo), o momento é propício para planejarmos 2010. Para quê esperarmos o dia 31, quando estaremos com a cabeça voltada para o “reveillon”?
É verdade que nós, brasileiros, somos os reis do improviso. Deixamos tudo (absolutamente tudo) para a última hora e, na base do tão decantado “jeitinho”, bem ou mal, acabamos resolvendo qualquer parada. Ainda assim, é prudente que tenhamos, pelo menos em linhas gerais, sem detalhamentos, algum plano para os próximos 365 dias, tanto no âmbito pessoal, quanto profissional e, principalmente, afetivo.
Da minha parte, concretizo pelo menos 35% do que planejo todos os anos, o que, para os nossos padrões brasileiros, não deixa de ser uma façanha. Os outros 65% esbarram, em geral, em circunstâncias imprevistas, mas também na indolência e na mania nacional de adiar tarefas chatas para amanhã, para o mês seguinte, para o outro ano e assim por diante. Não me diga que você não é assim! Se não é, parabéns! Você é um fenômeno.
Entre os planos que faço, os que mais se realizam são os literários. Isso é coisa que levo a sério e não faço concessões. Até porque, nesse aspecto, o tal do jeitinho, além de não resolver coisa alguma, atrapalha à beça. A esse planejamento, sobre o que, quando e como escrever, denomino de “pauta”. Isso mesmo, pauto os temas básicos que pretendo abordar, até para que eles “fermentem” no cérebro e, quando chegar a hora de escrever, estejam prontinhos, bastando, apenas, “vesti-los” com as vestes das palavras.
As ceias de Natal ensejam-me assuntos para dezenas de contos. Divirto-me com esse evento. E nem tanto por causa da comida e da bebida dessas ocasiões (que, todavia, não desprezo, pois ninguém é de ferro), mas por causa das cenas hilariantes que flagro no confronto de vaidades que são as reuniões familiares.
Atente, também, para o que acontece ao seu redor. É possível que tenha lhe ocorrido o que ocorreu com um amigo muito chegado aqui de casa. Ele havia programado rigorosamente sua ceia nos mínimos detalhes, concluindo, até, quantas gramas de comida cada qual consumiria e quantas doses de bebida (e quais) seriam consumidas.
Eis que, minutos antes do pessoal ser convidado a sentar-se junto à mesa, chega, sem o mínimo aviso prévio, um primo de São Paulo, que ele não via há uns dez anos, com a mulher e cinco filhos, arruinando por completo todo seu planejamento. Morri de rir quando o amigo narrou esta desventura, pois isso já ocorreu algumas vezes comigo.
Outro tipo muito comum nas ceias é aquele tio hipocondríaco, que cisma que bebida alcoólica irá agravar seus achaques imaginários, que garante que detesta refrigerantes, que jura que não come carne de porco por causa disso, bacalhau por causa daquilo, e que afirma com arrogância, como se fosse o senhor da razão, que é vegetariano. No fim das contas, é preciso improvisar uma saladinha de última hora, arroz integral e outras “iguarias” (argh!) parecidas para o infeliz do sacripanta, que acaba virando a estrela da festa por sua chatice.
É como ressaltei: divirto-me com esses tipos. Mas prático, como sou, vingo-me e transformo-os em personagens de meus contos e novelas. Estes são os melhores. Você não precisa sequer inventar detalhes para torná-los interessantes. Basta descrevê-los do jeitinho que são. É sucesso garantido.
“E se nenhum, absolutamente nenhum dos planos feitos der certo?”, perguntará, boquiaberto, o atarantado leitor. Ora, não se preocupe. É verdade que todo o seu planejamento redundará em perda de tempo. Mas, cá para nós, se não estivesse planejando, você faria alguma coisa de útil? Certamente que não.
É provável que passasse horas e horas à frente do receptor de TV, assistindo, entediado (talvez até cochilasse), os chatérrimos e repetitivos programas apresentados nesta época do ano, que não lhe acrescentariam coisíssima nenhuma. Vai daí... Perda de tempo, por perda de tempo, a que sugeri (se fosse como o cético leitor de fato indagou, mas em tom de resposta), seria, pelo menos, mais excitante e criativa.

Boa leitura.

O Editor.

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2 comentários:

  1. Ando tão distraída que me esqueci de vir ler os textos de Natal. Achei que já tinha vindo. Erro de digitação, caro Pedro. O ano que se iniciará será 2012, e não 2010, e será bissexto, com 366 dias para vivermos. Será que conseguiremos? Sobre planos, eu os fazia, até há dez anos, quando sofri um infarto, e então só vivo cada meio dia por vez. Outras ameaças estão se instalando, então é de pouco a pouco que vivo, porém no sentido inteiro.Boas festas!

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  2. Obrigado pelo comentário (e pelos reparos). Ontem, escrevi tanto, mas tanto que no fim das contas nem estava atentando mais para o que escrevia. A compensação veio hoje, num almoço natalino em família, com a presença de todos meus filhos (coisa rara), meus genros e meus netos. Foi um dia alegre, sem excessos a não ser o de alegria o que é muito bom, que todos os participantes, certamente, (em especial os netinhos) irão se lembrar com saudades pelo resto de suas vidas. Natais de domingo fazem com que meus sábados sejam como o de ontem, extenuantes. Um grande abraço, Mara, e sinceros votos de felicidades, extensivos às pessoas que você ama.

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