sábado, 26 de novembro de 2011



Sobre passarinhos e ecologia

* Por Clóvis Campêlo

A paz é uma utopia inventada pelo homem. Mesmo na Natureza, entre os animais, ela não existe. Mata-se para sobreviver e isso é justo e natural. É a lei da vida, a cadeia alimentar mantendo o equilíbrio ambiental e ecológico. O bicho-homem é que mata em nome do lucro e das falsas ideologias. E isso é trágico.
Outro dia, viajando para a cidade de Canhotinho com o meu amigo Bartolomeu Lima, demos uma paradinha estratégica na Bica da Mijada da Velha, em São Benedito do Sul, para um refrigério necessário. O dono do local era passarinheiro e logo surgiu uma inevitável conversa sobre a criação de passarinhos. Contou-nos ele que já tivera problemas com o Ibama por conta das gaiolas mantidas no seu estabelecimento às margens da rodovia. No entanto, indagou por que as usinas de produção do açúcar também não eram multadas, já que os defensivos e agrotóxicos usados na monocultura da cana causavam uma mortandade e um extermínio de aves muito grandes, trazendo um prejuízo maior do que o hábito do matuto de criá-las em cativeiro, bem alimentadas e livres dos predadores naturais. Segundo ele, mesmo ali, naquela cidade situada na zona da mata sul do Estado e ainda cercada por áreas de preservação da Mata Atlântica já era notória a diminuição dos passarinhos e da fauna em geral. Para mim, a indagação é corretíssima e merece uma reflexão.
Outro dia, domingo de manhã cedinho, na feira do Cordeiro, onde são vendidos pássaros importados de outras regiões do planeta (Austrália, Nova Zelândia, Japão, China, etc.), presenciei a fuga de um gaiolão de várias espécies de aves chinesas. Assim como aconteceu com os pardais trazidos da Europa nos anos 60, logo elas estarão devidamente adaptadas e se reproduzindo no novo habitat. Esse é um outro problema a ser seriamente considerado, pois isso implica em rápidas modificações na nossa fauna. A Natureza leva anos ou séculos para proceder a essas mudanças, dependendo das necessidades de adaptação ou sobrevivência das espécies, e o bicho-homem, movido por interesses pecuniários e anti-naturais interfere de maneira brusca e negativa nesse processo.
Consideremos ainda a contradição que existe na nossa legislação de tentar preservar as nossas espécies animais e ser conivente com a caça e o extermínio das espécies animais de outros países. Isso também é justo e ecologicamente correto?
Enfim, todas essas considerações me vieram à cabeça após a morte trágica de Brasão nas garras de um gavião que cumpria apenas o papel que lhe fora estabelecido pela Mãe Natureza, nas suas leis sábias e independentes das considerações conceituais do bicho-homem.

A cultura, a civilização, a modernidade, nada mais são do que ilusões por nós criadas para justificar as nossas atitudes antinaturais e mortíferas.

Poeta, jornalista e radialista

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