terça-feira, 22 de novembro de 2011










Recinfeliz

* Por José Calvino de Andrade Lima

Recife cidade linda,
seu nome deriva dos arrecifes-
ligado ao mar
Sol, céu azul, mar azul,
águas mornas e mansas
e lanchas e jangadas...


Com esse hábito de observar os movimentos e o que acontece, parece que, aos olhos dos que me lêem, tornei-me um poeta-repórter a escrever sobre algumas observações. Na segunda-feira (07 do corrente), chamou-me atenção uma cena inusitada no centro do Recife. Do cinema São Luiz, do outro lado do rio Capibaribe, um projetor digital exibia na parede externa do edifício Trianon, outrora Cine Trianon (mais um prédio abandonado, onde à noite flagelados dormem embaixo da marquise), imagens da capital pernambucana e cinematográfica. Produção denominada Cinema de Rua, reunida pela IV Janela Internacional de Cinema do Recife.
Na terça-feira (08/11), foi exibido “O cinema e o espaço urbano do Recife”: mostra de cinco curtas com abordagens e discursos dos filmes... [Projetotorresgemeas]. Ao final, dois pênis eretos é a metáfora escolhida pelo filme para os detalhes da situação de desordem urbana do Recife. Na saída do cinema, para minha surpresa agradável, encontrei a minha amiga Dilma Carrasqueira (a conheci através do Literário), com sua maneira de se comunicar com o próximo. Conversamos sobre a abertura do Festival, que foi uma decepção, com filas desorganizadas, informações erradas, etc. Sinceramente, não assisti ao filme Febre do Rato, que o diretor Cláudio de Assis disse ser uma declaração de amor ao Recife. Disse Dilma que o filme se resume a drogas e sexo explícito. Acredito que o diretor faz críticas sobre a cidade que se encontra desgovernada. Estou sempre na expectativa e fico revoltado com esse desgoverno que aí está. Há anos que venho denunciando o que acontece nessa cidade. Para os leitores terem uma idéia da situação, transcrevo em resumo, algumas publicações:


A praça Dom Vital, no bairro de São José, estava florida, linda, linda. Meninos brincando, turistas tirando fotografias do Mercado e da Igreja. Eu via, da torre da Igreja da Penha, o Mercado de São José (reconstruído com suas barracas ao redor; chegava a uma delas e pedia um almoço com refrigerante, que gostoso! Mas isto tudo durou pouco, porque foi um delírio provocado talvez pelo efeito da cola-de-sapateiro (atualmente são pedras de crack, que os traficantes abastecem bocas de fumo da Região Metropolitana do Recife), que momento depois o conduzia passeando vagueiro pedindo a um e a outro dinheiro para comer ou até mesmo, quem sabe? Para tomar uma cachaça... Era um dos meninos de Rua, contando o seu sonho espetacular com o contraste da realidade, antes sendo censurado por uma senhora rica, que descera do carro dizendo: “esses moleques, só presta matando”, esquecendo que já foi criança e o amor fraterno é amor entre os que têm a mesma aparência; o amor materno é amor pelos desamparados.


(Jornal do Commercio - 1992)
(Miscelânea Recife – p. 63)



Nos meados de agosto visitei o Mercado de São José do Ribamar com o fotógrafo francês François Poivret e fiquei decepcionado diante da sujeira, da insegurança e do completo abandono. Sanitários imundos... A fedentina trescalava em nossa tradicional referência turística. Lá mendigos e prostitutas misturados pedem esmolas e comida! Espanta a euforia de alguns xeleléus de politiqueiros... Nosso lindérrimo Mercado do estado em que se encontra. Que diria o grande engenheiro francês Vauthier ante esta visão?...


(Jornal do Commercio - 1997)
(Miscelânea Recife – pp. 64-5)


Se o Brasil fosse um país equilibrado, a prefeitura do Recife seria processada por crime de omissão no que diz respeito ao som estridente quando são realizados shows no pátio de São Pedro. Sempre, sempre, ficam testando no perturbador: “Alô, som, som, som...,” e em mais de cem decibéis! Fora os trios elétricos durante os eventos como o Recifolia, por exemplo, e carros de propaganda por todo o grande Recife. E haja som com poluição sonora infernal (atualmente carrocinha de som)!...

(Jornal do Commercio – 1997)
(Miscelânea Recife – p. 70)


Um militar de alta patente aconselhou aos pais de adolescentes a manterem seus filhos em casa à noite. Mas, é justamente à noite que alguns jovens e adultos regressam do trabalho. É durante este espaço de tempo que a maioria dos nossos filhos namoram. É o melhor horário para ir ao cinema, teatro, shows, etc. À noite podemos admirar o céu cheio de estrelas...À noite no Recife é jovem e poética, só faltam zelo e segurança. Enfim, a noite é bela! Mas, cadê a polícia?

(Folha de Pernambuco - 1999)
(Jornal do Commercio - 1999)
(Miscelânea Recife – p. 66)


Na calçada do edifício Trianon, para o lado da Rua do Sol, colocaram uma passarela cimentada (antes adaptada) em cima das pedras portuguesas... A prefeitura deveria exigir a reposição das tradicionais pedras como também consertar as calçadas esburacadas... Até hoje nada!

(Diário de Pernambuco – 2001)

Quem transita pela Rua Matias de Albuquerque, no centro do Recife, está sendo prejudicado pela desordem das coberturas irregulares..., conforme publicado na coluna JC nas Ruas, em 10 de agosto de 2007. Esses estabelecimentos estão ocupando as calçadas... Muito oportuna também a publicação no JC do artigo Pedras portuguesas, que fala da troca do piso de pedras por lajotas de cimento. Reitero ainda que além de o mosaico de pedra portuguesa ser bonito, é um símbolo cultural de nossa cidade que, agora, contrasta com os pisos de cimento...

(Meu JC – 2008)

Na foto, o autor de chapéu com Abdoral de Souza Leite, ex-colaborador dos jornais do Recife. Recife, 05/set/1997. Foto do francês François Poivret

* Formado em comunicações internacionais, escritor, teatrólogo, poeta, compositor e rei do Maracatu Barco Virado. Como escritor e poeta, tem trabalhos publicados nos jornais: Diário de Pernambuco, Jornal do Commercio, Folha de Pernambuco e em vários sites... Tem 12 títulos publicados, todas edições esgotadas.

2 comentários:

  1. Uma pena condenar uma cidade tão festiva
    e colorida ao desamparo e decadência sob o
    jugo da omissão do Estado.
    Abraços Zé.

    ResponderExcluir
  2. Naturalmente apaixonados pela nossa cidade, costumamos fingir que não vemos o erro, e enaltecemos o que bonito e poético no que escrevemos. Coragem a sua de falar das feridas de Recife, afugentando os turistas, fonte de divisas. No entanto, caro Calvino, sem criticas, não há conserto. É um absurdo pagarmos impostos e não vermos as correspondentes melhorias nas questões urbanas.

    ResponderExcluir