quarta-feira, 21 de setembro de 2011







Uso e abuso dos moderadores de apetite

* Por Mara Narciso


Os moderadores de apetite dietilpropiona, femproporex e mazindol possuem efeito curto que não passa de quatro semanas, no sentido de fazer a pessoa comer menos. Tempos atrás, uma formulação que incluía dietilpropiona, fluoxetina e diazepan inundou o norte de Minas de uma forma devastadora, e pessoas usaram a mistura por anos. A dose padrão diária que seria de 75, 20 e 10 mg respectivamente subiram a 180, 45 e 30 mg. O baixo custo e a inobservância às leis de controle na manipulação dessas drogas levaram famílias inteiras à ruína. Senhoras sérias viraram traficantes de drogas, pois, para alimentar o vício compravam e vendiam essa formulação com lucro.
Com o uso da fórmula, muitos emagreceram até um quilo por dia, já que essa perigosa combinação em altas doses leva a perda total da fome. Foi uma festa para as farmácias de manipulação, assim como para médicos sem escrúpulos, que vendiam as receitas sem ver os clientes.
Nas doses usadas nessa ocasião, o vício veio fácil e farto. Gente ficava jogada na cama tomando uma cápsula após a outra, sem ligar para mais nada, num pesadelo que lembra hoje a cracolândia. Alguns enlouqueceram, outros suicidaram, cabeças rolaram. Muitos foram encaminhados para psiquiatras na tentativa de retirar as drogas, porque abuso e dependência vieram a rodo. De nada adiantaram as denúncias de pessoas preocupadas com a saúde coletiva. A onda durou uns dois anos. Passada a moda, os usuários engordaram o dobro do que tinham perdido.
A dietilpropiona, femproporex e mazindol são drogas catecolaminérgicas, derivadas da anfetamina, usadas há várias décadas. São relativamente seguras, respeitadas as doses e contra-indicações. São eficazes, com efeito moderado, porém útil, levando a perda de 2 a 10% do peso inicial. Os casos de psicose, alucinações e agitação decorrem da associação de drogas, a qual deve ser evitada.
Aprendemos com o abuso, que os moderadores de apetite, quando em altas doses, junto com outras drogas, e mal indicados viciam de forma preocupante, no entanto, sozinhos e usados com acompanhamento têm poder viciante pequeno. O efeito anorexígeno dura poucas semanas, e causa insônia e um estado de ânimo alterado (estado de alerta), de pequena monta.
Ações da Polícia Federal, Vigilância Sanitária e ANVISA reduziram a farra, e se ainda persiste, o uso inadequado é mais discreto. O medicamento só pode ser vendido com receituário numerado (controlado pela Vigilância Sanitária) especial B2 de cor azul, numa quantidade para no máximo 30 dias, e isoladamente.
A ANVISA já se posicionou pela retirada desses medicamentos do mercado, pois considera que os efeitos adversos acarretam riscos à saúde. No entanto a Sociedade Brasileira de Endocrinologia é a favor da manutenção desses fármacos, por entender que a utilização de um agente antiobesidade duplica a possibilidade de sucesso na redução de peso, com diminuição da circunferência abdominal, e melhora da glicemia, colesterol, triglicérides, ácido úrico e pressão arterial.
A sibutramina, por sua vez, é um sacietógeno mais recente, também usado para combater a obesidade. Um estudo concluiu ser a sibutramina prejudicial à saúde, com aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, porém utilizou um grupo para o qual a medicação está contra-indicada, que são os portadores de doença cardiovascular. Outros estudos apontam que os resultados desse grupo não podem ser extrapolados para a prática clínica. Pessoas desse primeiro estudo não perderam o peso esperado, e continuaram com a medicação. O que é estranho, pois não se mantém uma droga que não esteja apresentando resultados. A sibutramina é desprovida de potencial de abuso e dependência, e não causa depressão ou ideias suicidas. Não é indicada para portadores de doença cardiovascular, hipertensos descontrolados, naqueles que têm arritmia cardíaca, e nos não respondedores.
Qualquer tratamento antiobesidade, quando interrompido, perde seu efeito emagrecedor. Manter o peso mais baixo após um emagrecimento exige uma mudança no estilo de vida, que deve ser permanente, incluindo aí, além da redução na ingestão de calorias (onde os remédios atuam), uma troca pelos alimentos saudáveis, assim como a prática de exercícios. Sem isso, o efeito ioiô é a regra.



(Baseado em informações da ABESO - órgão informativo da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica - agosto 2011).

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”-

3 comentários:

  1. Que fantástica aula sobre o assunto. Excelente explanação sobre tema polêmico e perigoso. Quanto lhe devo pela consulta, Doutora? Um abração.

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  2. Eu que lhe devo pela visita, Marcelo. Muito obrigada!

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  3. Errata: as doses padrão diárias que seriam...

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