terça-feira, 20 de setembro de 2011



Pequenos, discretos, sutis
eventos de exclusão ou
um bode pra expiar...

* Por Cacá Mendes

A delicadeza da fineza de pessoas indo e vindo no brilho das passarelas da arte e da cultura é sempre um algo assim, tão sem... Sabe, sem comparação de bom, de ótimo, de brilhante, que às vezes engolimos um peixe até cru! O que se fosse em outra área da vida, nem assado nas brasas das mais ricas das madeiras, comeríamos. Oxa, oxa, oxalá que tivéssemos sempre o luxo disso na vida para o sempre do puro em palato sentido ao vivo do sabor! É a vida, que no fundo, trocando nos miolos, deveria ser para o puro prazer, prazer do conjunto das pessoas, do pleno... Mas paro no aqui, freando de medo do comum me pegar pelo cu das calças das coisas, bem na hora que o texto teria que ser outro.
(Ah, a burguesia do discreto, do charme, do inteligentíssimo, sabe nos golpear com o que há de melhor na vida, sabe, sabe!)
Veja bem, meus queridos olhos indo aqui bem em cima disto, indo-se em letras batidas de dedos trêmulos, numa manhã de sábado... Recebi uma propaganda de um curso ou oficina por e-mail, sobre Glauber Rocha, na USP. Nossa, um primor, uma pérola. Eu talvez nem fosse mesmo, ando sobrecarregado, mas creio que devia haver montão de gente morrendo... De vontade (e gente que precisa, que não teria outra oportunidade, digo, assim, no exagero, mas dito fica nisso) de ir e participar ficarão muitos. No visto que vejo, exceto se for enganação de marketagem, em termos econômicos parece bastante acessível. Mas... olha... sabe... eu trabalho... poxa... será que o chefe libera? Opa...
Exclusão, esse é o creme-do-creme da exclusão mais bandida, que se possa haver no berço, no colo, na mãe-do-corpo da burga. Ou o cu do cérebro da “intelligentsia paulista” mesmo. Certo, Glauber é para poucos. Talvez por isso tenha tido vida tão curta, sabia: seria um sempre para poucos. Continuando a propaganda daquele curso enviado para minha caixa de e-mails, divulgando-se em si tão nobre causa... Bom, de tanto a tanto de outubro de 2010, sempre às quintas-feiras, das 14 às 18 horas (o grifo é meu)... Eu vou, monte de gente vai, eu fui, foram, e fodam-se todos que lá se foram ou não.
.... (Meses depois eu aqui retomando um assunto...)
Isso aí. Sim, eu havia esquecido este pedaço de texto nos guardados dos arquivos e o resgatei pra surrupiar um pouco isso. Dirão muitos: nada a ver isso de achincalhar tão belíssima intenção, tão necessária ação; tão não sei o quê de cacete do cacete de intenção dos ossos que vão ficando pelo caminho... Eu sei, pior Glauber assim do que nunca Glauber assado. Ok.
Claro, Glauber, na parte da noite, assim com todo mundo caindo pelas bordas de cansaço e sono seria uma chatice, e final de semana... Pô meu pera aí fala sério sem vírgula: qualé que é?!
Perdoe-me a chatice das minhas isses mas não suporto mais essa delicadeza dos senhores feudais da arte e do domínio cultural do atraso, e da exclusão. Um reles panfleto guarda tudo e mais isso de ira, num simples evento tão bem intencionado, de senhores tão otimamente preocupados com nosso cinema! É uma pena, Glauber continuará sendo para poucos. Daqui até o fim dos ossos.



* Jornalista – blog: www.cronicaseg.blogspot.com

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