domingo, 18 de setembro de 2011







O pássaro

* Por Solange Sólon Borges


Que noturníssimo acorde cantas de improviso?
És inútil em teu cântico, terno amado,
pois onde tocarias ao final o destino extraviado?
Se no sobrecéu as vigílias se declinam, encerradas,
que pode haver de esperança ou lírio?

Não há mais tempo, terno amado.
O interlúdio predomina, fartamente,
que o silêncio me confina, delicado.
Eis-me aqui, atenta. Deixa-me estar.
É preciso saber se o que existe por detrás
dos cortinados, da sua frágil forma,
foi esvaído ou anunciado.
Pássaro constante...

A solidão me chamará de súbito em sua ronda.
Em qual noite te perderei dos meus domínios?
Por qual motivo? Em que palácios?
Esse amor sucessivo...

(Nem é preciso falar-te, terno amado:
estou adernando...)
Serei sempre talismã.
Por testamento, dócil guardiã.
E te anunciarei: pássaro em vôo nítido
quando adentrares na póstuma dimensão,
trazendo o desejo alado em chamas
e tuas cinzas calcinadas de paixão.

* Jornalista, dedica-se a diversos gêneros literários. Entre outras atividades, atua em alguns programas “O prefácio”, sobre livros e literatura. Um deles é o programa Comunique-se, levado ao ar pela TV interativa ALL TV (2003/2004). Apresentou, também, “Paisagem Feminina”, pela Rádio Gazeta AM (1999), além de crônicas diárias na Rádio Bandeirantes e na Rádio Gazeta — emissoras das quais foi redatora, repórter, locutora e editora.

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