quinta-feira, 18 de agosto de 2011







Morto mas feliz

* Por Fernando Yanmar Narciso

A vida simplesmente não é longa o bastante para a maioria das pessoas. Por isso tendemos a acreditar que ali, depois do caixão, da urna de cinzas ou de como quer que tenhamos partido, precisa haver uma recompensa por todos os nossos anos servindo à humanidade, para o bem ou para o mal.
Por isso traficantes e políticos sempre rezam em grupo antes de fazer alguma besteira, pois sequer sonham em ir parar no inferno se alguma coisa der errado. Particularmente, adoraria passar uma temporada por lá, e por três bons motivos. Primeiro, dizem que nossa alma sofrerá eternamente com toda a sorte de torturas, judiações e crueldades nas mãos de Satã e seus comparsas. Mas acontece que a alma, se é que isso existe, é uma coisa impalpável, que em tese não possui massa, corpo. Logo, se eles vierem me empalar com aquele tridente em brasa ou com aqueles chifres enormes, nem vou sentir nada. Podem vir à vontade!
Segundo: Se o paraíso for mesmo do jeito que os livros sagrados descrevem, deve ser um tédio ouvir só sermões, o canto dos anjos, trombetas e liras o tamanho que é o dia. Depois de uma semana nem deve dar mais pra suportar tanta paz e bom-mocismo, pois somos transgressores de nascimento, queremos ver o Titanic bater e afundar.
Terceiro: Por esse mesmo motivo, todos os grandes transgressores da história provavelmente foram pra lá. Roqueiros, cientistas, pensadores, déspotas, ditadores, serial killers… Quem não gostaria de saber se Hitler, Mussolini, Hirohito, Stalin, Saddam e Osama foram mesmo pra lá? Se o diabo é o pai do rock, segundo Raul Seixas, há uma boa possibilidade dele e do resto da turma terem ido direto pra churrasqueira gigante. Lá deve haver muito mais liberdade que num lugar cheio de “santos”. Se bem que podemos muito bem esbarrar com Joelma, Chimbinha, Restart, Justin Bieber e outros carrascos lá embaixo…
Com certeza as pessoas com mais sanidade que eu querem manter distância do inferno, mas em compensação o chamado “paraíso” tem tantas versões diferentes que nem imagino o tamanho da planilha que os santos usam pra colocar ordem no fluxo de almas lá em cima. Cada crença, religião, culto e, por que não, pessoa tem sua visão diferente de como é o descanso dos justos.
O rei da cocada preta Maomé era o profeta mais esperto de todos, afinal para todos os que morrem em nome de Alá, ele prometeu um lugar com 72 virgens, sem especificar o gênero sexual. Claro que todos os muçulmanos iam querer morrer depois dessa, afinal sexo, água e dinheiro não se dispensa ou nega a ninguém. Mas tem uma pequena mutreta nesse conto: Pra que eu vou querer na cama 72 pessoas- digo pessoas porque não sei se são homens ou mulheres- que nunca transaram na vida? Até conseguir dar cabo da fila inteira, você não vai mais querer saber da fruta.
Tirando Tropa de Elite 2, os dois filmes mais populares do ano passado no país falavam de espiritismo. Se você for como a maioria dos brasileiros provavelmente se maravilhou com aquela cidade esplendorosa do “Nosso Lar”, cheia de edificações fantásticas, ruas que parecem ter saído da cabeça do Niemeyer, todo mundo usando roupa branca e atuando como o Jonatas Faro… Os carros voadores dos Jetsons até foram lançados no outro mundo antes do nosso, é mole?
Sei não, mas com tantas construções grandiosas, provavelmente o Quércia e o Sérgio Naya devem estar tocando o terror por lá, pois quanto maior a obra, maior a bandalheira nos bastidores, como todos sabemos.
Claro que há aquelas religiões para as quais a vida é cíclica, ou seja, se você morrer, fica frio(perdão pelo trocadilho), pois daqui algum tempo você estará de volta ao mundo, mas- Tem sempre um “mas”- não como você se conhece hoje.
A reencarnação… Seu espírito pode voltar tanto no corpo de outra pessoa como no de um animal. Aí vêm todas aquelas piadinhas infames que todo mundo conhece do cara que sonhou que havia reencarnado como uma galinha poedeira numa fábrica da SOMAI e acordou fazendo cocô na cama, ou do outro que voltou como um touro reprodutor numa fazenda em Uberaba, ou…
Mas, mesmo com todo esse leque de opções de plenitude espiritual oferecidas por todas as religiões, a idéia de virar adubo ao morrer não me parece tão desanimadora no fim das contas, mas temos que admitir que os profetas que escreveram todas essas teorias tinham muita imaginação…

• Designer e colunista do Literário, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

Um comentário:

  1. E você tem ainda mais imaginação que os profetas. Gostei de todas essas misturas.

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