quinta-feira, 23 de junho de 2011







Nada mole vida

* Por Fernando Yanmar Narciso

Aviso: Se você tiver menos que 16 anos, pare de ler nesse instante!
Aaaaaah, Suécia… Terra do The Hives, das almôndegas, dos vikings, do Sr. Leôncio (Aposto que não sabiam que ele é nórdico, sabiam?), do Roxette, de Ingmar Bergman e, acima de tudo, Christina Lindberg, a mulher mais linda que já surgiu no planeta. Aos 24, apesar do jeitinho de Lolita, já era uma mulher feita e vivida, o que não é necessariamente algo bom. Começou a ralar e ser ralada na frente das câmeras ainda na adolescência, em filmes de reputação pra lá de duvidosa, do naipe de pornô-chanchadas mais puxadas pro lado do pornô mesmo, sendo o mais famoso deles um dos filmes favoritos de Quentin Tarantino: A Vingança da Caolha, de 1974, “dirigido” por Bo A. Vibenius.
Well, vamos ao que pode ser considerado o enredo do filme: Madeleine, uma inocente garotinha do interior, sai para passear no bosque com um velho, que, por ironia do destino, é pedófilo. Ele tenta abusar sexualmente dela no meio do mato- na cena mais incompreensível e alucinógena da história do cinema- e fica tão excitado que morre de infarto antes que a mãe dela consiga achá-la. Madeleine fica tão apavorada com o assédio que acaba ficando muda. Anos mais tarde, Christina entra em ação como Maddie adolescente, e continua tão ingênua quanto antes. Um dia ela perde o ônibus que ia pra cidade e um sujeito esquisito com a maior cara de gigolô a oferece carona,
a embebeda num restaurante até desmaiar e a seqüestra. Ela acorda no dia seguinte no bordel do cara, onde ele a escraviza numa dieta diária de sexo e heroína, forçando-a a trabalhar para ele como prostituta de luxo.
Claro que ela reluta a servi-lo no começo, afinal o filme precisa de um motivo para ter o nome que tem. No primeiro aluguel, ela se recusa a transar com o cliente, e seu patrão, enfurecido, lhe arranca o olho com um bisturi (uma cena ultra-controversa, pois reza a lenda que o diretor usou um cadáver real na filmagem). E vocês acreditariam que, mesmo com um tapa-olho, ela continua sendo muito requisitada? Por sabe-se lá quanto tempo, três clientes- SEMPRE os mesmos durante todo o filme!- a visitam quase todos os dias: Um cara normal, uma lésbica sádica e um louco que adora bater fotos dela em ângulos, digamos, desconfortáveis, tudo mostrado da forma mais realista e repugnante possível. Resumindo: Comparadas a Madeleine, Maria Mercedes, Marimar e Maria do Bairro passaram a vida num convento.
Mas é claro que ela não deixaria isso barato! Nas horas vagas ela começa a arquitetar seu sórdido e super-merecido plano de vingança contra seus algozes, tomando aulas de karatê, tiro e corrida de carro, tornando-se a mais bela máquina de matar com um olho só e conduzindo nossa pérola a um final pra lá de previsível.
Este é um dos filmes mais odiados do mundo, tendo sido proibido nos Estados Unidos e em quase toda a Europa, inclusive em seu país de origem. Acreditem se quiserem, mas a intenção do diretor com esse filme era correr atrás do prejuízo causado por um filme anterior, fazendo um “filme comercial bobinho”. Se ele achava essa atrocidade um filme bobo, devia usar quase tanta heroína como a coitada da Madeleine.
Esperei três anos até acabar de baixar o filme, e confesso a vocês que, até para meus padrões de filme trash, esse aqui foi doloroso de assistir até o fim. Ele seria até uma pornô-chanchada de ação razoável, não fosse pelo vício do diretor em usar câmeras lentas. Quase todas as cenas do filme usam o recurso, desde as cenas de sexo explícito até atos corriqueiros como acender um cigarro ou assoar o nariz. A única explicação plausível para um uso tão abusivo deve ser para acobertar a falta de falas. Sem elas o filme mal chegaria a ter 50 minutos de duração. Mas, como gosto é que nem bunda, cada um tem a sua, e só tem louco no planeta, haverá quem aprecie essa “gema”.
Maddie tá de olho, hem? Hehehehehe, perdão, a piada era irresistível…

• Designer e colunista do Literário, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

2 comentários:

  1. Li e não aguentei, esse texto merece todos os comentários.
    Meu amigo, o filme pode ser trash( eu gosto, me divirto com eles), mas a sua crítica, aliás, brilhante, nos obriga a tirar a prova dos nove.
    Adorei! Parabéns Fernando!
    Abração amigo.

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  2. A sinopse causa náuseas, mas ao mesmo tempo faz rir pelo seu sarcasmo e humor-negro. Boa análise crítica, que alguns chamarão de comentário.

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