terça-feira, 26 de abril de 2011






Cravo


* Por Evelyne Furtado

Não desejo tanto e anseio mais. A ambivalência mora aqui e lá. Dispenso o que a muitos apraz e quero com imensa força que o olhar traz. Mergulho em poço escuro, de olhos fechados, em mar aberto, tanto faz.
Desço, deslizo, afundo em ais. Uma mulher em água se desfaz. Ressurge em sais. A "bruta flor" é um cravo. Cravo no peito é querer mais. A salvação é o cais. Desejo é carrasco e é libertação. Ainda assim desejo mais.
Treze vezes trinta cravos lhe satisfaz? Operações numéricas não faço bem. Revoluções armadas também, não. Mas querer, sim. E quero mais.
Boa sou, também, em imaginar. Na imaginação multiplico. De um cravo faço mil e neles deito todos os meus anseios de afeto e de paz.

• Poetisa e cronista de Natal/RN

6 comentários:

  1. Há uma cadência, um ritmo muito interessante nessa bela prosa poética. Uma imagem vai puxando a outra num texto que, se a autora quisesse, não teria mais fim. Mas ela sabe que é importante deixar esse gosto de quero mais nos seus leitores. E deixou. Um beijo, amiga.

    ResponderExcluir
  2. Evelyne até "de olhos fechados", vê, ou seja, poeticamente as coisas dizem a ela:
    "Na imaginação multiplico. De um cravo faço mil e neles deito todos os meus anseios de afeto e de paz."
    Realmente, ficou o gostinho de quero mais.
    Beijão, poetamiga!

    ResponderExcluir
  3. Desejo, anseio, quero paz.
    Destaco:
    "...afundo em ais. Uma mulher em água se desfaz."
    Belo híbrido de versos em prosa. Embalam a alma de um jeito tão bom, que, quando termina, fica o vazio cheio de reflexões. Quem entende?

    ResponderExcluir
  4. Marcelo, Núbia,Calvino e Mara , obrigada pelo carinho. Adorei os comentários! Beijos, amigos.

    ResponderExcluir