terça-feira, 1 de março de 2011




A ronda da noite de Djalma Maranhão

* Por Talis Andrade



Estreladas noites Djalma passava
pel'A República dirigindo um jipão
que parecia um trator O velho jipão
dos tempos da Grande Guerra
subia descia morros
dançava na areia fofa
das ruas que Djalma mandava ladrear

O jipão seguia ziguezagueando
por desalinhadas ruas
ladeadas de casinhas de presépio
Casinhas que a lua alumiava
Ruas que exibiam os mistérios da noite
como uma mulher mostra os encantos
exclusivamente para o amante
Ruas em que Djalma mandava levantar
postes de iluminação

Djalma conhecia as quinas
as curvas das ruas estreitas
Nos becos e botecos
saltava para um trago
Djalma conhecia os moradores
as cantorias os amores
as aventuras dos pescadores
Djalma bêbedo da paisagem
o encantamento das dunas
estendendo o mar
transformado em areia
Djalma bêbedo de saudade de Natal
contava histórias de quando preso
nas masmorras de Getúlio
parecendo previa carregadas nuvens
fechariam o tempo fechariam as casas

Djalma levou consigo
a saudade
para a escuridão
do cárcere
A saudade no exílio
lhe consumiu
o coração
Djalma voltou para Natal
dentro de um caixão

* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).

2 comentários:

  1. Natal é tão maravilhosa, que quem vive lá não deveria merecer o céu, pois mora no paraíso. Assim, é perfeitamente compreensível que Djalma morrese de banzo. Triste voltar ao lar apenas para o sono eterno.

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