quinta-feira, 27 de janeiro de 2011




A seguir?

* Por Fernando Yanmar Narciso

Posso não ser tão velho, mas tenho compulsão em pesquisar a fundo toda a história da comunicação no país, sei de tudo o que aconteceu entre a abertura da Rede Tupi em 1950 e a morte de Roberto Marinho em 2003. Todo mundo lembra com saudades dos tempos áureos da Rede Globo, do SBT e de todas as outras emissoras. Assim que a “Era Hans Donner” começou nos idos de 1976, a TV foi oficializada como comunicadora mais influente do Brasil. O estilo inovador, a linguagem ágil e o uso pioneiro de computação gráfica para criar vinhetas, logomarcas, aberturas e afins da Vênus Platinada foi prontamente imitado, mas nunca igualado por todos os outros canais na década de 1980. Talvez a audiência de todos os canais nunca tenha sido tão alta como na década citada, pois com a abertura econômica muito pobre pôde enfim ter sua primeira Telefunken. Não há quem não se lembre das majestosas aberturas do Fantástico, lotadas de coreografias espaciais e efeitos computadorizados que, apesar de ainda estar em estado seminal, deixavam a todos nós de boca aberta. Ou das aberturas de Tieta, da releitura de Selva de Pedra em 1986, de Roque Santeiro, A Gata Comeu, Guerra dos Sexos, da própria TiTiTi, dentre muitas outras. Lembram-se de quando a Rede Manchete, lançada em 1983 com uma vinheta impressionante, se anunciava como “A TV do século XXI”? Pois é, sequer chegou lá... Que dizer então da eterna segundinha, agora eterno 4º lugar SBT, na época com dinheiro de sobra pra tentar imitar os efeitos de computador da própria Globo e da ABC americana? Até as músicas da contraparte gringa ele plagiava na cara dura! OK que nem sempre o resultado do Ctrl+C- Ctrl+V convencia, mas algumas tentativas ousadas continuam na memória de muitos desocupados como eu.
Mas, como tudo na vida é substituível, nas décadas seguintes a TV foi lentamente sendo substituída pela internet, que começou como um tipo de “social club” para os mais abastados nos anos 90 e veio com força total no Brasil das lan-houses da Era Lula.
Chegamos a um ponto em que nenhuma emissora quer saber mais de inovar e tentar trazer de volta seu antigo público cativo. A computação gráfica televisiva já não chama mais tanta atenção como há 25, 30 anos. Até mesmo Darth Hans Donner se burocratizou, passando a fazer cada novo projeto simplesmente no piloto automático.
Basta largar tudo na mão de um computador e garantir o cheque no fim do mês. Digam o que quiserem, mas, apesar de apreciar muito, não há coisas mais frias e sem alma que animações feitas em computador. Hoje em dia, parece absurdo, mas naquele tempo eles eram capazes de torrar oceanos de dinheiro simplesmente para fazer um programa infantil. Bozo, Xuxa, Mara Maravilha, Sérgio Malandro, todos os apresentadores tinham sets de filmagem colossais, bandas, coreografias, auditórios lotados de crianças e mamães, gente fantasiada, gincanas... Eis a prova que ninguém mais põe fé nos pimpolhos de hoje. Os programas ditos infantis de agora são tão baratos que são gravados dentro de um quarto ou em cenários minúsculos e claustrofóbicos, cheios de tons pastel e elementos cenográficos frios e sem atrativos. Às vezes os programas sequer têm apresentadores. Basta passar os desenhos que fica tudo numa boa.
Nada é mais triste que assistir um poderoso império sendo devorado pela decadência com o passar dos anos, dando lugar a algo maior, melhor e mais rápido, não acham? Aquilo que outrora servia como ponto de referência, como símbolo de pujança e imponência, capaz de engolir a tudo que seus olhos podiam alcançar, conforme as décadas correm passa a ser considerado um mero degrau na escada evolutiva.
Queremos sempre mais, mais e mais. Se andarmos pela rua num carrão importado último tipo e ao parar no sinal vemos um sujeito num carro muito maior, mais potente e moderno que o nosso, automaticamente passamos a nos ver dentro de uma lata de sardinha caríssima. É a vida.
Onde é que foi parar o brilho da TV brasileira, minha gente? O que aconteceu com o glamour de décadas passadas? Dinheiro não lhes falta, apenas a motivação para superarem a si mesmas. Mas já que aparentemente as emissoras não têm o menor interesse em restaurar suas glórias passadas e partir para um combate real contra a internet, só nos resta especular qual será o próximo acontecimento que devorará os sites de relacionamento e afins.

* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

Um comentário:

  1. Depois de um vem sempre o outro. Como a internet e seus sites estão fervilhantes, pouca gente está pensando no depois, no "Day After", mas deveria. Ponto para você!

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