quarta-feira, 19 de janeiro de 2011




Revolta do Ronco da Abelha

* Por Marco Albertim

A Praieira fora derrotada militarmente, mas o fio embebido em pólvora deixado por liberais e praieiros, sobretudo pelo Capitão do Sertão, Pedro Ivo, foi aceso pelo povo pobre, a maioria camponeses livres. Com a divulgação dos decretos 797 e 798, de 18 de junho de 1851, temia-se que a escravidão atasse em ferros também a população branca. O tráfico de negros fora proibido pela Lei Eusébio de Queirós, de 1850.
O primeiro decreto estabelecia o Censo Geral do Império, logo após a divulgação em editais em jornais ou a afixação em igrejas matrizes. O 798 obrigava todo brasileiro a se apresentar nas paróquias e à frente de juízes de paz das diferentes localidades; para fornecer os dados pessoais, data e local de nascimento, filiação, estado civil e cor da pele. O propósito do governo de Pedro II era instituir O Registro Civil dos Nascimentos e Óbitos.
Rapidamente espalha-se o boato de que o governo quer reduzir os cidadãos pobres à condição de escravos. No fundo, a intenção era colher dados para calcular a população, tendo em vista o recrutamento de homens para o serviço militar. A Guerra dos Marimbondos começa em Paudalho, espalhando-se pelas vilas de Nazaré, Goiana, Limoeiro, Vitória, Garanhuns, Rio Formoso, Igarassu; nas freguesias de Ipojuca, Jaboatão, São Lourenço e Muribeca. À frente de tudo, o chefe João dos Remédios. Os ataques se dão em vilas e engenhos, de surpresa, destruindo documentos públicos, num burburinho semelhante ao zumbido de marimbondos ou enxame de abelhas.
Os zumbidos também são ouvidos na Paraíba, como nas vilas de Ingá, Campina Grande. Alagoa Nova e Alagoa Grande. E em Alagoas, em Laje do Canhoto, Mundaú-Mirim, Porto Calvo, Porto de Pedras, Riachão, Arrasto, Juçara, Jacuípe, São Brás, Salomé e Barra Grande. No Ceará, em Jiqui. Em Sergipe, em Porto da Folha.
Portando armas de fogo ou não, grupos de lavradores, rendeiros, meeiros, brancos ou não, atacam prédios onde há editais de convocação. Logo se espalha que as revoltas são estimuladas por ex-praieiros, incluindo sacerdotes e latifundiários do Partido Liberal. Ex-praieiros negam tramar contra o Partido Conservador ou contra o Conselho de Ministros, de Pedro II. Vítor de Oliveira, então governador da Província de Pernambuco, apressa-se, ele próprio, a defender o Partido Liberal da “opinião falsa.”
Tropas do Exército e da Guarda Nacional são despachadas contra os revoltosos. Mas não combate, ninguém é preso. Os rebeldes se refugiam nas matas. O Conselho de Ministros, em manobra política, susta a aplicação dos dois decretos; e surge perante a nação como restaurador da paz.

*Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.

Um comentário:

  1. Não ouço os zumbidos, mas no meu silêncio
    a imaginação me acompanha.
    Abraços

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