quinta-feira, 27 de janeiro de 2011


Por que os clássicos?

A
leitura dos chamados “clássicos” é indispensável para quem queira adquirir sólidos conhecimentos literários e ostentar razoável cultura geral. Muita gente, todavia, interpreta de maneira equivocada essa palavra, dando-lhe uma conotação que ela, de fato, não tem: a de algo arcaico, ultrapassado, antigo, cheirando a mofo e guloseima predileta das traças. Estão equivocados.
Um escritor pode ser considerado clássico tanto tendo pertencido à antiguidade greco-romana (ou oriental), por exemplo, quanto se tratar de nosso contemporâneo e ter até nascido no Brasil, não importa. O que o caracteriza como tal não é a época em que viveu e que produziu a sua obra, nem a região ou país em que nasceu.
Convencionou-se considerar “clássicos”, escritores e livros que influenciaram e influenciam a literatura e, sobretudo, a cultura mundial. Daí a necessidade de lê-los, estudá-los, devorá-los, digeri-los e absorver as lições que eles têm a nos transmitir. Existiram tanto num passado bastante remoto, quanto existem hoje e cujos pensamentos se impõem, influenciando gerações.
Querem uma lista razoável de escritores clássicos? Claro que muitos ficarão de fora, até por serem tantos e minha memória não ser tão brilhante como muitos supõem (e como eu gostaria que fosse). Homero, Heródoto, Tucidides, Sófocles, Platão, Aristóteles, Petrônio, Ovídio, Plutarco e Virgílio são nomes óbvios dessa relação.
Os indianos Valmiki e Vyasa não podem ser esquecidos. Ambos escreveram epopéias marcantes na literatura mundial. O primeiro é o autor da “Ramayana”. Já Vyasa compôs a não menos célebre “Mahabarata”. Ainda na literatura oriental, os chineses Lao Tzu, Confúcio e Sun Tzu não podem ser esquecidos. Nem os japoneses Ô No Yasumaro e Tonsei Shinnô.
Da Idade Média e Renascença os grandes clássicos foram Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino, Bocáccio, Dante Aligheri, Nicoló Maquiavel, Miguel de Cervantes, William Shakespeare, Erasmo de Rotterdã (autor do “Elogio da loucura”), Johann Wolfgang Von Goethe, Thomas Mann e Hermann Hesse.
Tenho que citar escritores mais “modernos”, como Gustave Flaubert, Marcel Proust, Victor Hugo, Charles Baudelaire, Fedor Dostoievski, Leon Tolstói, Henry David Thoreau, James Joyce, Oscar Wilde, Ernest Hemmingway, Aldous Huxley, George Orwell e Albert Camus.
E o Brasil, não tem seus clássicos? Tem, e muitos. Tantos que cito, somente, os mais óbvios, como Padre Antonio Vieira, Manuel Antônio de Almeida, José de Alencar, Machado de Assis, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Manuel Bandeira, Guimarães Rosa, Mário de Andrade. Graciliano Ramos, Érico Veríssimo e Clarice Lispector.
Eu poderia alinhavar mais centenas de excelentes escritores, igualmente clássicos, cujas obras seguem exercendo enorme influência na cultura internacional, preenchendo páginas e mais páginas, mas não o farei. Uma pessoa que não tenha lido pelo menos metade dos autores que citei, não pode se considerar nem medianamente culta e muito menos conhecedora de literatura. Com o advento da internet e do livro eletrônico, não se pode mais usar sequer como desculpa a dificuldade de acesso a essas obras.
Quanto à conotação de “antiguidade” que os preguiçosos conferem aos clássicos, como pretexto para não lê-los, essa desculpa não cola e não se sustenta. Aliás, somente ressalta a ignorância de quem tente se valer dela. Há livros escritos por clássicos há 200 anos que parecem que foram produzidos hoje, tamanha a atualidade dos temas, das idéias expostas e da linguagem utilizada. Duvidam? Pois aqui vai uma pequena prova.
O alemão Johann Wolfgang Von Goethe destacou-se na literatura mundial no período compreendido entre fins do século XVIII e início do XIX. Nasceu em 28 de agosto de 1749 e morreu em 22 de março de 1832, aos 83 anos de idade. Foi considerado, consensualmente (e ainda é) como um dos maiores, se não o maior, escritor em língua germânica de todos os tempos. Foi romancista, ensaísta e, sobretudo, poeta.
Dele, partilho com você, paciente leitor, este poema “Se da amada estás ausente”, extraído do livro “Divã Ocidental-Oriental”, com tradução de Paulo Quintela. Nele, Goethe assim se expressa: “Se da amada estás ausente/como o Oriente do Ocidente,/o coração transpõe todo o deserto,/só, por toda parte acha o seu caminho certo./Pra quem ama Bagdá é aqui perto”.
Agora digam-me, os que consideram os clássicos antiquados, o que há de ultrapassado e arcaico neste poema? Nada, evidentemente. Poderia dizer-lhes que foi composto por algum poeta contemporâneo qualquer, tido e havido como moderníssimo, e ninguém iria perceber e, por isso, me questionar ou rebater. E olhem que este é um dos poemas tidos como “menores” entre os compostos por Goethe. Imaginem como são os melhores! Imaginem não, leiam, que vocês ganharão muito, muitíssimo mais!!!

Boa leitura.

O Editor


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