quarta-feira, 17 de novembro de 2010




Pernambuco em chamas - A imprensa e os agitadores (Carrascos recusam-se a executar Caneca)

* Por Marco Albertim

(Resenha 4ª parte)


A Confederação do Equador teve dois agitadores relevantes. Frei Joaquim do Amor Divino dirigiu o jornal Typhis Pernambucano. Cipriano José Barata de Oliveira, à frente do Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco. No dizer dos autores de Pernambuco em chamas, Cipriano Barata foi um “agitador extraordinário.” Inda que preso nas masmorras, dirige onze edições. A Confederação foi proclamada em 2 de julho de 1824, em que pese o envio de uma flotilha armada, da Corte, para impor Francisco Paes Barreto, preferido do imperador. Os pernambucanos alçaram Manoel de Carvalho Paes de Andrade ao governo. Já então é aventada uma Assembleia Constituinte. Emissários são enviados aos Estados Unidos e à Europa; da América, o reconhecimento da Confederação; na Europa, a compra de seis canhoneiras para resistir à reação imperial. Para manter o novo governo, é montada uma flotilha de quatro navios de guerra; e corpos de exército junto à Companhia de Guerrilhas. O recrutamento garante o pagamento de soldo aos engajados, e pensão aos herdeiros dos mortos em combate. O Grande Conselho, cuja incumbência é regular os poderes do governo provisório, não chega a se reunir. Também o Supremo Governo Provisional não chega a funcionar. Paes de Andrade permanece governando.
Para obter o apoio de negros e mulatos, livres ou não, um edital suspende o tráfico de escravos no porto do Recife. A medida resulta na cisão de grandes proprietários e traficantes de escravos. “Na prática”, reiteram Rubim Aquino, Francisco Mendes e André Boucinhas, “Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco compuseram a Confederação do Equador.” Em Alagoas há sublevação dos liberais favoráveis à nova ordem. O brigue Constituição ou Morte e a escuna Maria da Glória, rebatizada Goiana, são enviados para ajudá-los. Na refrega com navios legalistas, são derrotados. Três comandantes são enviados à capital do Império, julgados e enforcados. João Guilherme Ratcliff, que se envolvera na Europa numa revolta contra Carlota Joaquina, mãe do imperador, tem as mãos e a cabeça cortadas e levadas de presente à rainha mãe.
O mercenário escocês, Alexandre Thomas Cochrane, é “contratado” para organizar a marinha imperial. Está à frente de uma frota de cinco navios para combater os rebeldes. Tem negociações secretas com Paes de Andrade, recusa o suborno de 400 contos de réis para aderir à rebelião; não por fidelidade à Coroa, porquanto exige dois milhões de contos.
No interior da província, as oligarquias permanecem fiéis a Pedro I; são lideradas por Francisco Pais Barreto. Nos combates, a desproporção prejudica os revoltosos. Paes de Andrade, que se unira a frei Caneca na Divisão Constitucional da Confederação do Equador, vai ao interior para marchar ao Ceará, onde Tristão Gonçalves de Alencar Araripe adere à Confederação. Mas, “a bordo da fragata inglesa Tweed é levado a salvo para a Inglaterra.” Há relatos que dão conta de que fugira para livrar a própria pele.
Frei Caneca, o agitador da Revolução de 1817, defende a idéia de que “todo homem é livre para manifestar os seus sentimentos e sua opinião sobre qualquer objeto; a liberdade de imprensa (...) não pode ser proibida, suspensa nem limitada; a igualdade consiste em que cada um possa gozar dos mesmos direitos; a lei deve ser igual para todos, recompensando ou punindo, protegendo ou reprimindo; o direito de propriedade (...); a instrução elementar é necessária a todos, e a sociedade a deve prestar igualmente a todos os seus membros.”
O julgamento de Caneca é uma farsa, apenas confirma o decidido por Pedro I. O carrasco, o negro Agostinho Vieira, recusa-se a exercer o ofício; é seguido pelo ajudante; o nome deste os cronistas não informam. Recorre-se a presos da cadeia, todos se negam. Ninguém quis se associar ao crime que teve a cumplicidade da Igreja Católica.

Obs.: “Pernambuco em chamas”, por se tratar de compêndio de grossa lombada, com abundância de informações, será abordado aqui por partes. O volume de informações é tamanho que torna alto o risco de omissões numa simples e solitária resenha.


* Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.

2 comentários:

  1. Cada vez mais interessante.
    Sigo firme e forte.
    Abraços

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  2. É como Núbia diz: "Cada vez mais interessante". Peço licença a Albertim, para acrescentar: Nos anos 50, eu já gostava de ouvir o preto-velho contar histórias do seu avô sobre Frei Caneca, revolucionário da Confederação do Equador, foi preso, julgado e condenado à forca para ser executado por pretos que se achavam presos na Cruz do Patrão (A Cruz do Patrão fica localizada na beira do Cais, que separa Recife e Olinda). A pena foi substituída pelo fuzilamento, porque os presos se recusaram a enforcá-lo. Segundo a história, Frei Caneca foi fuzilado no largo próximo ao Forte das Cinco Pontas.
    Abração do,
    José Calvino
    RecifeOlinda

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