segunda-feira, 29 de novembro de 2010




Mãos ao alto, porquinhos de barro

* Por Aliene Coutinho


Ando contando moedas, assim como a maioria dos brasileiros, para comprar o pão, o leite e até o cigarro. Outro dia esvaziei o cofrinho das crianças para pagar a passagem de ônibus da diarista. Sem o charme de antigamente, quando eram cunhadas em ouro, prata e cobre e se chamavam tostão, vintém – vale ressaltar que não vivi nessa época – hoje, contar moedas é sinal dos tempos. Dos tempos em que vivemos agora, de economizar, de deixar de lado pequenas regalias e grandes extravagâncias. A moeda, que ficava largada nos cantos da estante, dentro de porquinhos de barro, latas ou enchiam pequenos potes como decoração, agora paga o essencial.

E com tantas moedas e tão poucas cédulas – não me venham falar das de um e dois reais que em breve vão sair de circulação – nossos objetos de desejo vão ficando cada vez mais distantes. Já não me pertence mais o carro zero 2.0, sequer 1.8, os almoços de quinta-feira no Piantella, a compra à vista nas lojas de marca do Parkshopping, muito menos minhas lentes siliconadas e fluorcarbonadas de alta oxigenação e durabilidade, que usava há mais de dez anos e meus olhos tão bem se adaptaram.

Dá vontade de chorar, e as moedas hoje nem podem ser raspadas como antigamente, quando eram de metais nobres e as pessoas assim faziam para ficar com um pouco do ouro ou da prata, antes de passá-las para frente. Mas tem certas coisas que faço questão de manter, apesar da perda do poder financeiro, se o carro é mil, tem de ter, pelo menos, direção hidráulica e vidros elétricos. Almoço fora, pelo menos uma vez por mês, nem que seja num self-service, as roupas... bem, me viro nas lojas de departamento, em promoções e em idas furtivas às feiras do Guará e do Paraguai. E olha, até que acho peças bem interessantes que algumas amigas “estilosas” não acreditam quando digo onde foram compradas.

Agora, minhas lentes, essas eu não posso abrir mão mesmo. Preciso continuar enxergando, e muito bem, o que está a minha volta, o que se passa na nossa economia, no nosso Distrito Federal e no nosso País. Negociei, pela primeira vez na vida pechinchei mesmo, e consegui um desconto de 10%, e pagamento em três quase suaves prestações. Ufa!!!

* Jornalista e professora de Telejornalismo

3 comentários:

  1. Nossa, moedas me trazem lembranças um tanto
    traumáticas, eu tinha em casa um cofre
    cheinho e na verdade nem me lembro mais para
    que as estava juntando, só sei que meu pai arrombou
    meu cofrinho e nem me avisou...chorei por dias.
    Mas ainda tenho a bendita mania de catar tudo quanto é moedinha, o porta níqueis fica pesado...
    Abraços Aliene

    ResponderExcluir
  2. Também não vamos exagerar: surrupiar o cofrinho das crianças? O Governo agradece quando recolocamos as moedas em circulação. Algumas regalias acabam sim, por nos deixar. O que é uma pena para os nossos pequenos hábitos bons.

    ResponderExcluir
  3. Acho que a maioria das pessoas de classe media, um dia ou outro precisam contar as moedas para completar algo que querem comprar. Principalmente no final do mês, não é? Adorei seu enfoque, Aliene!
    Beijos

    ResponderExcluir