domingo, 19 de setembro de 2010


Os beques de fazenda

* Por Antonio Medina Rodrigues

Na defensiva interiorana
se desrecomenda a trivela,
e o que não sair de canela,
não o será por filigrana.

Não por idade, fome ou peso,
nem por abstenção cultural
corre a toa um beque teso
do apito ao Juízo Final.

Pois uma deusa é que faz isso:
o mundo ela finta, escarninha,
uma diva sem compromisso
com calendário ou folhinha.

É lei, nessa poupança vil,
que com a garra e com a gana
mande-se a bola além-Brasil,
aqui estou eu (lá está o bacana).

Então não banques, pois, o perfumo,
nem o Mauro de Oliveira,
que o futebol aqui é o resumo
do que não tem sal nem maneira.

De resto a bola aqui tem peso
do que pode ser ou seria,
e tanto faz se pôr coeso
ou se ganhar por outras vias.

E como a bola é extraviada,
e quem mais quer é quem apanha,
não me diga que há marmelada:
o zero a zero é o tira-manha.

• Poeta, professor, ensaísta e tradutor

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