sexta-feira, 17 de setembro de 2010




Cumplicidade masculina

* Por Rodrigo Ramazzini

- Amor!
- Hã?
- Cheguei... Está na sala?
- Estou...
- Fecha os olhos, então!
- Por quê?
- Tenho uma surpresa!
- Boa ou ruim?
- Vai mudar a nossa vida!
- Opa!
- Pois é... Fecha os olhos!
- Vai mudar para o bem ou para o mal?
- Para o bem!
- Fecha os olhos!
- Já fechei!
- Vou contar até três, aí tu abres os olhos: uuuuum, dooooois, três. Pronto!
- Mas o que é isso, Gisele?
- O nome dela é Glória! Em homenagem a chiquérrima Glória Kalil!
- Uma chinchila, Gisele! Para que tu queres uma chinchila?
- Ué! Como animalzinho de estimação, ora...
- Esses bichos são cheios de frescuras para cuidar, Gisele! Sem falar que se gasta um nota...
- Já fui a um veterinário e peguei todas as dicas de como cuidar bem da Glória.
- Meu Deus! Era só o que me faltava...
- Não te preocupa que a Glória nem vai incomodar, né Glória? Está com fome, está? Vamos comer então...

Em um bar.

- Essa foi a conversa que eu tive com a Gisele. Quando ela falou não te preocupa, eu gelei. Conheço a minha esposa. Sempre dá problema quando ela diz isso...
- Mas e aí, Fabão? O que aconteceu? E a Chinchila?
- Nico! Acertei na mosca. A droga da chinchila só incomodou! Primeiro, que a Gisele não desgrudava e não parava de falar no bicho. Segundo que, em todos os lugares tinha aquele monte de pêlo. Era dentro do meu sapato, em cima da cama, no sofá... Um inferno!
- E aí?
- Ah! Sem falar que o bichano fez voltar a minha rinite alérgica. Eu não parava de espirrar!
- Há! Há! Há! Mas e aí?
- E aí que eu precisava me livrar daquele animal!
- Fazia quantos dias que ele estava no teu apartamento?
- Três! Mas eu não agüentava mais!
- Há! Há! Há! E aí? Matou o bicho?
- Não! Não! Qualquer atentado contra a chinchila eu seria o principal suspeito. Não achas?
- Sim! Sim! E daí?
- Tentei conversar com a Gisele, dizendo que o bicho estava atrapalhando a nossa vida, o nosso casamento, coisa e tal... Me pergunta se deu certo?
- Lógico, que não! Há! Há! Há!
- Tu sabes que mulher quando coloca alguma coisa não cabeça ninguém tira...
- Pois é...
- Matar ou sumir com o bicho eu não podia... Nem mandar matar... Como te falei, eu seria o principal suspeito...
- Há! Há! Há! E aí?
- Foi então que eu tive a idéia. Por ironia, sentado na privada do banheiro...
- Pula esses detalhes... Há! Há! Há!
- Tá bom! Há! Há! Voltando à história. Foi então que eu tive a idéia para me livrar do bicho. Forjei um documento, como se o pessoal do condomínio tivesse mandado, dizendo que não podia se criar animais que não fosse cachorro, gato e passarinho...
- E não pode?
- Claro que pode! Lá, é liberado...
- E aí?
- E aí quando a Gisele chegou do trabalho, eu mostrei o documento...
- Foi aquela gritaria?
- Foi! Gritava que aquilo era um absurdo, uma discriminação, queria se mudar, coisa e tal. Fez um escândalo!
- Só imagino! Mas ela não correu no sindico para se certificar e cobrar?
- Claro... Direto!
- Por que essa cara de riso? Eu não acredito...
- Nada como a cumplicidade masculina e uma dúzia de cerveja para se resolver um problema como esse... Não achas?
- Há! Há! Há! Não acredito! Comprou o síndico. E deu certo?
- Depois de muito espernear e bater boca, sim!
- E, afinal, onde foi parar a Chinchila?
- Essa hora a Gisele deve estar levando o bicho em algum lugar para doação.
- Há! Há! Há! Então, um brinde a chinchila!
- Um brinde ao futuro da chinchila!

• Jornalista

2 comentários:

  1. Pra você ver como os homens são unidos.
    O raça! rsrsrs.
    Ótimo texto Rodrigo.
    Abração

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  2. O ap é pequeno demais para um casal e uma chincila. Rodrigo, você tem razão.

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