sexta-feira, 24 de setembro de 2010




Antologia dos poetas independentes 2010

* Por Urariano Mota

Clóvis Campêlo, ao me pedir uma apresentação da Antologia Poética 2010 do grupo virtual Poetas Independentes, foi logo avisando:
“Desta vez, vamos inovar e misturar poemas e crônicas. Espero que entendas que o Poetas Independentes é um grupo heterogêneo ... um grupo democrático”. E assim me deu um norte para este quase prefácio.
De um ponto de vista mais geral, digamos exterior, acredito ser natural que em uma antologia poética se reúnam poemas e crônicas. A poesia reside além dos poemas, atinge até nomes de ruas, como a Sete Pecados no Arruda,ou a Japaranduba, em Água Fria. A poesia está no azul do céu de Olinda, no riso da criança, no desabrochar da moça na menina. Os muitos rígidos que nos perdoem, mas o nome da poesia é beleza, que não se vexa de se fazer presente mesmo em poemas mais duros, crus ou macabros. A poesia também está em prosa, e às vezes mais presente nela que em poemas.
De um ponto de vista mais específico, para não cometer injustiça nem despertar os mais justos ciúmes, o ideal seria nomear todos os poetas, escritores, deste volume, em ordem alfabética e corrida: Angélica Teresa, Arimatéia Macêdo, Clóvis Campêlo, Conceição Pazzola, Demóstenes Felix, Eron Freitas, Fernando Sphangero, Jair Pereira, Líris Letieres, Lucelena Maia, Lucivânio Jatobá, Luiz Guimarães, Olga Matos, Verônica Aroucha, Vilma Maria. Mas isso é justiça de catálogo telefônico. Isso nada diz das pessoas, dos trabalhos e dos escritores aqui presentes. Então se segurem por que ao dizer Angélica Teresa, quero dizer poesia já no título:

A vida num minuto

Que eu preserve o corpo intacto,
A alma livre, e em vôo raso.
Que eu nunca fuja do pacto,
Mesmo sendo só um caso.

Ao dizer Arimatéia Macêdo devo dizer também humor

NÃO DESACORÇOAR


Eu já detenho motivos em demasia.
Chego a desfechar em quase afasia.
Avalio-me portador de parestesia.
Ou, quem sabe, modo de hipoestesia.

Ao dizer Clóvis Campêlo quero dizer uma verdade mais que psicanalítica, universal

ENTRE ANJOS E DEMÔNIOS

Que cada um cuide bem dos seus demônios.
Eu também tenho os meus e os trato a pão-de-ló.
São eles que me ressuscitam para vida
quando me sinto sufocado e anestesiado pelos sons celestiais dos anjos
que se vendem a prestação em cada esquina da cidade.


Ao dizer Conceição Pazzola, devo dizer humanidade na tecnologia

VOCÊ SABERIA

Se você tivesse um notebook
Haveria de encontrar na tela
A confissão desse amor antigo
Com raízes fincadas na terra

Ao dizer Demóstenes Felix, digo flagrante artístico

TIINA

A menina vagueia na rua
Poesia aos trapos
Imagem absurda, lua nua,
Amor ao acaso
Vestida de sonhos
Corpo aos farrapos
Palavras vadias

Com Eron Freitas quero dizer um verso tão belo quanto o primeiro

A LÁGRIMA

Uma lágrima é tão pouco no imenso mar,
mas inunda e ainda sobra no olhar

Com Fernando Sphangero devo dizer, entre suas reflexões sobre o ciclo do tempo

REENCONTROS

Que mal há nos reencontros ?

Com Jair Pereira devo dizer retrato de todos poetas

BALADAS EXPERIMENTAIS

Livros em andamento
Rostos sem tristezas
Volta do poeta ao lápis!

Com Líris Letieres diremos renascer

PÉ DE VENTO

Me atei à velha história em pensamento
E dos versos e canção eu fiz a ponte
Flori

Com Lucelena Maia diremos crítica histórica/feminina

MEUS PECADOS

Confesso-te todos os meus pecados
E começarei por falar da gula
Dia e noite tu puseste à mesa
Requintados pratos de censura.

Com Lucivânio Jatobá diremos recuperação histórica

DE ASSEMBLEIAS ESTUDANTIS E OUTROS TEMAS

Nunca mais soube dessa moça. Fiquei apenas com a lembrança da sua face morena e o cheiro agradável do perfume que emanava do seu corpo. Nem seu nome eu sei. Talvez hoje seja uma dona de casa, feliz ou infeliz; talvez tenha mudado de cidade; talvez...

Com Luiz Guimarães devemos dizer sensibilidade além da medicina

LACUNA

Imenso espaço
Em nós e no tempo,
Talvez não exista
Só no sentimento.

De Olga Matos será bom lembrar e dizer a memória eternizada

NOVENTA E SEIS

A tecedura tanto bela quanto útil,
deixará gravado em linhas retas e curvas
as mais variadas imagens de mulher amante,
brincalhona, dançadeira e romântica...

De Verônica Aroucha deverá ser lembrada esta estrofe magnífica

JARDIM

Cuidando do jardim
entre o céu e o meio do céu
As flores de organdi
E meu coração de papel:
dobraduras de estrelas


E de Vilma Maria, então o que dizer? Erotismo belíssimo em uma pintura impressionista

DEZNUDEZQUARTO

Dispo meus sentidos
Desnudo minha alma
Desfolho todas as vestes
E nua
Tal qual a lua
Quedo-me
No meu quarto
De quatro
Nua
Crua
Tua.


Ainda assim, com essa justiça menos injusta, ainda não teríamos atingido o ponto, que é: neste livro há poetas, bons poetas, com achados que são um afago como um cafuné. Neste livro, descobri novos artistas, e para meu gosto de sujeito metido a prefaciador, escolheria... melhor deixar o leitor com o seu julgamento. Que ele seja a alma ideal para os poetas ideais neste encontro vário.

• Escritor e jornalista

3 comentários:

  1. Lindas poesias.
    Umas te falam ao coração.
    Outras na alma e outras
    te ruborizam trazendo -te
    calor nas faces.
    Abraços

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  2. Puxa, isso é o que eu chamo de retorno imediato. Mais uma vez, obrigado pela atenção. E grato também pela fotografia da praia do Pina, um lugar que adoro.

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  3. Um prefácio diferente, dando espaço para todos, o que é incomum em se tratando de antologia. Justiça foi feita, e ainda por cima bela.
    Destaco:
    "Com Lucelena Maia diremos crítica histórica/feminina

    MEUS PECADOS

    Confesso-te todos os meus pecados
    E começarei por falar da gula
    Dia e noite tu puseste à mesa
    Requintados pratos de censura."

    A mulher em busca da boa-forma, lutando contra a censura alheia.

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