sábado, 21 de agosto de 2010


Sem recreio

* Por Suzana Vargas

Um carro correndo na ponte
Um sol que vertia sangue
Sobre o monte...

Onde os poemas
não escritos?

Onde o poema que
não fiz por

que não tinha empregada
ou
porque a neném estava
com diarréia?

Quando
escrever poemas
no banheiro
Se crianças me
reclamam por inteiro?

Meus poemas?
Como encontrá-los
na madrugada
se de noite
me deito
Cansada?

Mas eles me acenam:
da água suja do balde
sapóleo branco do piso
Onde meus poemas
o lixo

Das aulas que
dou
como louca
E ao diretor custam
Muito pouco?


Onde a exata dimensão
freia o que sinto
Corre o que sangro

* Poetisa gaúcha, radicada no Rio de Janeiro, autora de literatura infantil e ensaísta. Tem 16 livros publicados, entre os quais “Sombras chinesas” , “Caderno de Outono” (indicado ao Prêmio Jabuti) e “O amor é vermelho”.

Um comentário:

  1. Dizem os poetas que poemas saem como diarréias. Precisam ser vertidos urgentemente em palavras escritas para não se perderem. Gostei das duas figuras, das fezes e do sangue.

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