terça-feira, 17 de agosto de 2010


Como franco atirador

Caros leitores, boa tarde.
O Brasil entrou no Mundial dos Estados Unidos como franco atirador. Não me lembro de ninguém que lhe atribuísse favoritismo, por mínimo que fosse. Creio que isso até nos ajudou, pois nossos adversários nos encararam com a “guarda baixa”, o que é sempre fatal a quem menospreze nosso potencial técnico, mesmo que estejamos em crise (como era o caso).
O técnico Carlos Alberto Parreira convocou uma seleção com média de 27 anos e 11 meses. Não se podia dizer, pois, que fosse um grupo jovem. Não era. A grande maioria dos integrantes havia disputado as eliminatórias e uma boa parcela era remanescente da equipe de 1990, comandada por Sebastião Lazaroni, tão execrada pela imprensa e pela torcida.
O “caçula” do grupo era um menino de somente 18 anos, com uma habilidade fenomenal de fazer gols, um tal de Ronaldinho. Fenômeno? Até então, não era visto como tal. Mas no futuro, essa designação caber-lhe-ia exata, justa, como uma luva, principalmente quando, ao término da sua quarta copa do mundo consecutiva, já gordo e fora de forma, ainda assim se tornou o maior artilheiro da história dos mundiais.
Os convocados por Carlos Alberto Parreira foram:
Goleiros: Taffarel, Zetti e Gilmar.
Laterais: Jorginho, Cafu, Leonardo e Branco.
Zagueiros: Aldair, Márcio Santos, Ronaldão e Ricardo Rocha.
Meio de campo: Dunga, Mauro Silva, Zinno, Mazinho, Raí e Paulo Sérgio.
Atacantes: Romário, Bebeto, Müller, Ronaldo e Viola.
A estréia do Brasil, tensa como geralmente ocorre em competições desse porte, ocorreu em 20 de junho de 1994, no Stanford Stadium, em São Francisco, na Califórnia. O adversário, a Rússia, era novato em Copas, embora tenha herdado parte do acervo futebolístico da extinta União Soviética. O árbitro desse jogo foi An Yan Lim Kee Chong, das Ilhas Maurício.
Foi uma partida equilibrada, bem disputada, embora fraca do ponto de vista técnico. O primeiro gol brasileiro nessa Copa sairia aos 27 minutos da etapa inicial dos pés do jogador que comandaria nossa equipe ao título: Romário. Raí, aos 7 minutos do segundo tempo, daria números definitivos ao placar: 2 a 0. Nada mau para uma estréia.
O Brasil jogou com: Taffarel, Jorginho, Ricardo Rocha (Aldair), Márcio Santos e Leonardo; Mauro Silva, Dunga (Mazinho), Raí e Zinho; Bebeto e Romário.
Na partida seguinte, a Seleção enfrentou, pela segunda vez em copas, uma equipe africana. Dessa vez foi Camarões. Os camaroneses haviam feito bons papéis em mundiais anteriores e poderiam nos dar trabalho. Não deram. Contavam, sobretudo, com o talento e experiência do jogador mais idoso da competição, Roger Mila, que aos 38 anos de idade ainda esbanjava categoria mas que, bem marcado, pouco rendeu.
O jogo foi disputado em 24 de junho de 1994, no Stanford Stadium, com arbitragem do mexicano Arturo Brizio. Jogando uma boa partida, o Brasil não tomou conhecimento de Camarões e venceu por 3 a 0, com gols de Romário, Márcio Santos e Bebeto.
Parreira mandou a campo: Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Leonardo; Mauro Silva, Dunga, Raí (Müller) e Zinho (Paulo Sérgio); Bebeto e Romário.
Veio o último jogo da fase de classificação e contra um adversário velho conhecido nosso: a Suécia. Nossa defesa, até então, vinha se constituindo no ponto alto da equipe e não havia sofrido nenhum gol. Levaria, no entanto, nesse confronto, disputado num estádio coberto e com grama sintética que nossos jogadores não estavam acostumados. Poderiam estranhar. E estranharam o Silverdome de Detroit. Quase que perdemos dos suecos.
O Brasil fez uma partida decepcionante. Não encontrou o tempo de bola e errou uma quantidade assustadora de passes, o que poderia ter comprometido, até, toda aquela campanha, com uma precoce desclassificação. Aliás, começou, na verdade, perdendo e foi para os vestiários, no intervalo, com placar desfavorável, de 1 a 0. Romário, todavia, empastou logo no reinício da partida, aos 2 minutos do segundo tempo, empate que persistiu até o final. Ufa! Foi por pouco.
A Seleção cumpriu, dessa maneira, até com dignidade, o seu papel na primeira fase. Classificou-se como primeira do grupo para as oitavas de final, embora com um futebol classificado como “feijão com arroz”, que não surpreendeu e nem encantou ninguém. Mas deu pro gasto. O Brasil reforçava ainda mais a condição de mero franco atirador, já que, àquela altura, ninguém o considerava favorito ao título. Aliás, não foi considerado desde o início.
No empate com a Suécia, Raí, que era tido e havido como o craque da ocasião e que estava em grande forma, decepcionou tanto o técnico, quanto a imprensa e os torcedores. Não esteve sequer perto de repetir as geniais performances do irmão Sócrates em mundiais anteriores. Por causa disso, perdeu a titularidade, que não recuperou mais até o fim da Copa.
O Brasil jogou nessa dificílima partida com: Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Leonardo; Mauro Silva (Mazinho), Dunga, Raí (Paulo Sérgio) e Zinho; Bebeto e Romário. Voltaria a reencontrar a Suécia na semifinal.

Boa leitura.

O Editor.

Um comentário:

  1. Lembro-me bem de Roger Mila. De fato o Brasil passou fácil por Camarões, mas foi bom vê-los jogar. Em relação a Raí, o peso da expectativa de todo um país, muitas vezes acima da capacidade do jogador, o faz endurecer as pernas, e algumas vezes até amarelar.

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