quarta-feira, 23 de junho de 2010




Clone

* Por Sayonara Lino

Ah, eu quero um clone meu, para gargalhar enquanto conto casos, tomar café forte e filosofar sem receio de ser taxada de lunática. Quero me enxergar como humana, que tem virtudes e defeitos. Preciso me ver bem de perto, confidenciar segredos, aqueles que não conto a ninguém, nem para mim mesma diante de um espelho.

Quero chorar e falar abertamente, ser ainda mais transparente do que sou. Quero incentivo de quem mais me ama, admira e cuida. Vou urrar aos quatro ventos, com duas bocas, em uníssono, que sou feliz com minhas particularidades. Continuarei a sentir pena dessa gente fragmentada, pobre de espírito, que perde um tempo precioso falando de meus tropeços. Pensam que são blindados, invulneráveis. Meu clone e eu bocejaremos ao vê-los assim, com ares de pseudo superioridade.

Viajaremos pelas cidades de Minas, iremos juntos fotografar, leremos livros e trocaremos mil e uma idéias, cuidaremos dos que precisarem, estenderemos as quatro mãos a todos os que nos solicitarem.

Ficaremos de bom e mau-humor, passaremos por dias de sol e tempestades, emprestaremos as roupas um ao outro, pintaremos nossos cabelos brancos com as tintas mais variadas.

Vamos virar noites olhando a lua e contando estrelas, acordaremos embriagados com a beleza do mundo, sentiremos angústia e teremos esperança, dançaremos no meio da rua, estranharemos nossas semelhanças e ficaremos eufóricos com a experiência única de nos identificarmos absolutamente.

Não, não é pedir demais, quero um clone meu, não apenas porque o narcisismo grita, mas para me observar através de um novo ponto de vista, e estar sempre próxima desse outro tão desejado.


* Jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. Colunista do portal www.ubaweb.com/revista.

8 comentários:

  1. Seria interessante por alguns momentos
    ter alguém que te escuta nas horas que pede.
    Que leia suas poesias, que te ajude a misturar
    as cores e que se encanta com uma simples
    brisa.
    Beijos Sayonara.

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  2. Adorei a idéia... também quero!!

    beijos

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  3. Nubia, obrigada por acompanhar e comentar os textos! Super beijo!

    Martinha, que bom que gostou da idéia! Beijos!

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  4. Eu sempre quis ter filho gêmeo, quando não existia a ideia de clone. Tive por duas vezes colegas de sala gêmeos identicos e ainda hoje sou capaz de reconhecê-los. Essa noção de cara de um "fucim" do outro sempre me empolgou. Você vai além com os seus clones.
    Destaco: "feliz com minhas particularidades".
    Imaginar ter um clone traz uma sensação nova entre o interessante e o estranho. Espero que isso não vingue no mundo real.

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  5. Oi, Mara! Obrigada pelo comentário! Desejo um clone apemas em meu imaginário, no mundo real seria estranho demais! Abraço!

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  6. Oi, Sayonara. Desde que ouvi falar de clone que me empolguei com a ideia; até escrevi um poema sobre isso. Já imaginou um clone que lavasse, cozinhasse, passasse toda a roupa e a gente pudesse ficar só lendo, escrevendo, visitando museus, fazendo cursos de arte?
    Adorei seu texto. Parabéns!

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  7. Oi, Risomar! é vc, né? rss Então, outro dia falei com uma amiga que queria um clone meu, para rir comigo, para nos divertirmos. Depois escrevi a crônica. Acho que seria muito estranho, imagina! Mas fica a mensagem! Muito obrigada, querida! Beijos!

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