terça-feira, 25 de maio de 2010


Vaidade, vaidade...

Caros leitores, boa tarde.
Gosto de escrever sobre um dos sentimentos mais generalizados de todos os tempos que, se levado a extremos, tende a conduzir as pessoas ao ridículo e a inúmeras frustrações, mas que, se existir na medida certa, é aceitável e até mesmo louvável e compensador. Refiro-me à vaidade.
Quem não é vaidoso? Eu sou, e muito! Claro que a vaidade, para ser saudável, tem que estar sempre acompanhada da indispensável autocrítica. Não me refiro ao autolinchamento, característica dos que sofrem do complexo de inferioridade. Este é uma patologia, que requer tratamento.
Nem estou pensando, também, em megalomania, uma espécie de paranóia que leva os pobres diabos que a sofrem a se julgarem superiores a todos, um Júlio César, um Napoleão, um Beethoven, um Einstein ou qualquer outro gigante da espécie e, em casos extremos, a se considerarem deuses. Qualquer manifestação de seus sintomas deve levar, urgente, as pessoas, e correndo para não perder tempo, a um psiquiatra.
Portanto, a vaidade, a que me refiro, é aquela normal, também conhecida como amor próprio. É a que nos leva a nos gostarmos e, por conseqüência, valorizarmos (e não estou dizendo hipervalorizarmos) nossas aptidões e conseqüentes sucessos em sua utilização. Ou seja, nem a mais (que pode ser o início de uma paranóia megalomaníaca), e nem a menos (o tal complexo de inferioridade). Reitero, estes dois casos extremos caracterizam alguma das duas patologias citadas.
O escritor, via de regra, é um vaidoso por excelência. Não se trata, porém, daquela vaidade mais comum, a da aparência física, por exemplo (e esta é das mais tolas, já que os anos se encarregam de arrasar a nossa estampa, embranquecendo os cabelos, curvando a cerviz, traçando-nos rugas no rosto e vai por aí afora). Dessa, poucos têm.
A vaidade do escritor é de outra natureza, a intelectual. Caracteriza-se pela valorização (e não hipervalorização, que descamba para um grau atenuado de patologia), do seu conhecimento, habilidade de comunicar pensamentos e sentimentos, cultura, autodisciplina etc.etc.etc. Quem não gosta de um bom elogio, desde que espontâneo e de alguém que entenda do riscado, para um texto claro, absorvente, com a característica da empatia e redigido com perfeição? Eu, da minha parte, gosto.
Há quem se recuse a elogiar qualquer pessoa ou obra, a pretexto de que o elogio irá “estragar” o elogiado. No seu entender, essa pessoa tende a se “mascarar”, a se achar mais do que os outros, e a partir de então, a se acomodar e deixar de ter bom desempenho. Bobagem. Até porque, se alguém agir assim, estará prejudicando apenas a si mesmo e a mais ninguém. Aliás, pelo contrário.
Nada é mais estimulante e motivador do que um bom elogio. Especialmente quando vem na hora certa, ou seja, quando atravessamos alguma das tantas crises que nos assombram e afetam (seja financeira, seja de criatividade, seja afetiva ou de qualquer outra natureza) e quando temos plena consciência de que é merecido. Como sabemos que é sincero? Sei lá! Mas o fato é que sabemos.
Machado de Assis tem uma declaração modelar a esse propósito (sempre ele, este mago das palavras, esse gênio das letras, este bruxo no melhor sentido): “Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado”. Assino embaixo essa declaração. Também me sinto dessa maneira.
Quem nega que tenha certa vaidade intelectual, mente. Ou, o que é pior, pode sofrer de algum grau do tal complexo de inferioridade e estar se sentindo “um lixo” face a outras pessoas. Esse indivíduo, óbvio, ao invés de estar ostentando alguma virtude, está tomado de uma incômoda e chata patologia.
Quem diz que detesta elogios está se limitando, meramente, a fazer tipo. Essa atitude, afinal, é incompatível a uma pessoa normal. Ou se trata de um tremendo hipócrita, buscando ostentar uma humildade que, de fato, não tem, ou é alguém muito doente e infeliz.
À medida que envelhecemos, em que nos tornamos mais experientes, por sermos mais vividos, certamente chegaremos, algum dia, à mesmíssima conclusão a que Salomão chegou na velhice, mesmo que não venhamos a nos expressar como ele: “vaidade, vaidade, tudo no mundo é vaidade”.
Mas, se é assim, por que não nos valermos dos benefícios desse saudável sentimento (e reitero, desde que não levado a tais extremos que caracterize patologias)? Por que não “saborearmos”, com gosto, algum delicioso elogio, que nos “alimente” por um dia inteiro ou mais?

Boa leitura.

O Editor.

2 comentários:

  1. Pedro, gostei do tema do editorial. Conheço quem não elogie por pensar que se o fizer, estará diminuindo a si mesmo. Acredita? Pois é, existe quem pense dessa forma... tudo é vaidade! Abraço!

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  2. Dia desses um amigo falou de um outro: "muitos sobem no meio fio e sentem como se tivessem no topo do Everest". Pois é, há tempos não dispenso um elogio a outra pessoa, desde que seja sincero. Os que me conhecem sabem que não minto. A velhice prende o corpo material, de certa forma alquebrado e com juntas duras, mas liberta o espírito rompendo as derradeiras barreiras. Assim, pode-se sentir livre e ser vaidoso. Por que não?

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