terça-feira, 27 de abril de 2010




JK e os 50 anos de Brasília

* Por Risomar Fasanaro

Juscelino Kubitschek, “o peixe vivo” de Minas governou durante a melhor época que minha geração viveu neste país: os anos dourados. Parecia que o país vivia em festa. Durante seu governo passei um mês em Copacabana, na casa de uma amiga de meus pais.

Nas ruas do Rio eu me encantava com a alegria das pessoas. Algumas ao passar em frente a uma loja de som começavam a dançar na calçada. Era visível a felicidade que havia no Brasil. As pessoas jamais imaginavam que dali a alguns anos o país viveria sob um clima cinza, de chumbo.

Adolescente, eu me deslumbrava ao ver os pés descalços do presidente nas fotos que as revistas “Manchete”, “Fatos e Fotos” e outras publicavam. Só hoje sabemos que aqueles “cinqüenta anos em cinco” que JK pregava custaram ao Brasil, na época, um crescimento de 40% da dívida externa além de ver a inflação dobrar.

Mas esses problemas passavam ao largo de nossas vidas e em nossos momentos românticos os assuntos giravam em torno da bossa-nova, recém surgida, ouvindo “Desafinado” na voz de João Gilberto ou “Eu e a brisa” com Johnny Alf”, ou o Barquinho na voz de Nara, para a voz de quem, nos parecia, a bossa-nova fora criada
.
E nos momentos de agito a loucura era total com o rock and roll de Elvis Presley. A juventude enlouquecia com o requebrado negro e alucinante do cantor. As mocinhas tingiam os cabelos de loiro e usavam batom rosa lilás com contorno à la Brigitte Bardot, e os homens se encantavam com as duas polegadas a mais de Martha Rocha e vibravam com a Copa do Mundo.

Mas de tudo que aconteceu no governo JK, o que mais marcou aqueles anos dourados foi o início da construção de Brasília, por ele chamada de “a capital da esperança”. A idéia da fundação da capital do Brasil em Goiás surgiu no primeiro comício da campanha de Juscelino à presidência, quando uma pessoa perguntou a ele se cumpriria o artigo 4o. das Disposições Transitórias da Constituição brasileira que tratava da fundação da capital do Brasil no planalto Central.

Juscelino era rapidíssimo, inquieto, famoso por estar sempre agitado e foi assim que num repente, sem grandes reflexões, ou em uma reflexão rapidíssima, respondeu que sim. Plantava-se ali a semente do que seria a capital da esperança. A cidade que rompeu com a arquitetura de milhares de anos.

Juscelino era uma presença que parecia estar sempre alegre, feliz, agradável de ver e de se ouvir. Transitava com a mesma desenvoltura entre intelectuais, artistas, desportistas e o povo simples que construiu Brasília.

Chamado de presidente bossa-nova era alvo constante dos humoristas da época, e até de uma canção de Juca Chaves. Nem tudo, no entanto correu às mil maravilhas no seu governo.

Mas embora tenha enfrentado alguns problemas como a greve geral de quatrocentos trabalhadores em 1957, da inflação que cresceu muito em seu governo, ele rompeu com o FMI em 1959.

E para atestar o momento feliz que vivíamos, data de 1956, durante seu governo, o lançamento do romance considerado a maior dentre as obras literárias brasileiras: “Grande Sertão: veredas”, de outro mineiro tão ousado quanto ele: Guimarães Rosa.

Foi lamentável ver esse homem de quem as pessoas em geral só têm lembranças agradáveis, não ter podido entrar livremente na cidade que fundou. Durante a ditadura militar poucos anos antes de morrer, entrou em Brasília dentro de um caminhão, agachado, para não ser visto.

Sedutor, Juscelino despertou paixões verdadeiras e platônicas nas mocinhas de então, e é triste lembrar, nesse aniversário de 50 anos de Brasília, que o “o peixe vivo”, morreu no asfalto escaldante da via Dutra, em um acidente que ainda hoje desperta suspeitas.

* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.

4 comentários:

  1. Há quem diga que foi obra do destino.
    Mas há quem diga que o destino de uns
    pode ser manipulado. Mistérios?
    Fica de acordo com as conveniências
    do contexto histórico.
    Ótimo texto Riso
    Beijos

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  2. Gostei muito do seu texto, Risomar! Beijos!

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  3. Obrigada, meninas, pelo carinho.
    Beijos nas duas
    Risomar

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  4. Muitas pessoas elegeram a época de JK presidente, como a melhor de todas. Ousadia tem preço alto, e no caso, a dívida externa explodiu. Foram 50 anos para pagá-la, mas valeu a pena, assim como foi boa a viagem aos anos JK através do seu texto.

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