quarta-feira, 28 de abril de 2010




Exagerada

* Por Sayonara Lino

Há duas semanas, minha cadela fox paulistinha, que tem nove anos de idade, recebeu o diagnóstico de diabetes. Como a quantidade de urina aumentou absurdamente de dois meses para cá, corri com ela para a clínica.

A glicose estava altíssima. Ela foi submetida a exames de sangue, a curva glicêmica foi realizada com objetivo de determinar como seria o tratamento e tudo foi entrando em uma certa normalidade. Diariamente é aplicada uma dose de insulina, onde o problema crônico é controlado. Ela passa muito bem.

As doenças chegam sem nosso consentimento, sem dó nem piedade. Não querem saber se nossa cuca está legal para lidarmos com elas. Também não consultam nosso saldo bancário para saber se daremos conta das despesas.

Além de estar triste por ela, meu bolso gritava. Primeiro vieram os exames, a hospedagem, depois o frasco de insulina. E eu suava frio. Além disso, precisava de alguém que aplicasse a dose para mim, já que devido ao nosso grau de intimidade, ela dá saltos e solavancos. Sem contar que não manejo bem aquela agulhinha fina. Então, combinei na clínica um pacote de banho com as aplicações incluídas. Jóia! De repente, veio a notícia fatal: “você terá que pagar a seringa, que é descartável. À parte”. Pronto, foi a última pá de cal.

Cheguei em casa e chorei ao fazer os cálculos. Um choro sofrido, que apenas os dramáticos, descendentes de italianos como eu, conhecem. Aproveitei e chorei todos os atrasados: desafetos, mágoas, decepções, as enchentes, os tsunamis, os maremotos, as guerras, as antigas dores de cotovelo, de coluna e de cabeça. Chorei por causa do preço do tomate. Chorei as pitangas possíveis e as inimagináveis.

No dia seguinte, respirei fundo para chegar com ares de tranquilidade e conversar com o veterinário. O rapaz olha para mim e diz, calmamente: "a seringa custa apenas vinte centavos”. Ou seja, sairia pelo menos quinze vezes mais barato do que o valor que eu havia calculado.

Vou te contar, no fim de tudo ri de mim mesma e percebi que sofri sem tanta necessidade. O sangue açucarado da minha querida cachorrinha me lembrou mais uma vez que às vezes sou mesmo assim, um tanto exagerada.

* Jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. Colunista do portal www.ubaweb.com/revista.

6 comentários:

  1. Pelo menos fez sua catarse!
    E ainda conseguiu rir de si mesma.
    Também amo minha Lola, uma cadelinha que não
    vale nada.
    Adorei seu texto Sayonara.
    Parabéns!!!!
    Beijos

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  2. Então, Nubia, minha cadelinha se chama Nick. levei um baita susto com o diagnóstico. Mas é o que vc disse, fiz a catarse e dei umas risadas! obrigada pelo carinho! Beijos!

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  3. Quem não é ?
    Também tenho mania de maximizar tudo. Seria o sangue italiano ?
    Essa coisa de sofrer por antecipação é cruel. Tem horas que não dá mesmo para evitar.
    Lendo seu comentário, percebo que não é uma ficção e sim uma história real.
    Pois é, Sayonara, até os bichinhos sofrem...e você é tão humana.
    Apesar da doença da sua cadelinha, a crônica é muito boa !
    Grande beijo

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  4. Oi, Celamar! É, acredito que o sangue italiano contribua para certos exageros! rsss Sim, é verdade, a foto é dela, a história é real! Obrigada pelo comentário e pela força! Beijão!

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  5. Sayonara, quando a pessoa com diabetes é a sua criança, o choro envolve toda a família. É muito triste.É preciso fazer exames de sangue várias vezes ao dia. São necessárias de 4 a 8 picadas a cada 24 h. Até esses casos caem na normalidade, na rotina. Admito que você ver a sua cachorrinha sofrende envolve dor também. Hoje são comuns vermos cães com diabetes. Disseram-me que as taxas são semelhantes às das pessoas. Estranhei fazer curva glicêmica se a glicose já estava altíssima. Ela deve ser solicitada apenas quando a dosagem é limítrofe e há dúvida no diagnóstico, por exemplo, glicose entre 100 e 125. Entendo o seu exagero. O desconhecido, até deixar de sê-lo, é ameaçador.

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  6. Oi, Mara, obrigada pelo esclarecimento. Pois é, a glicose dela estava alta, acho que em torno de 458. Enfim, tudo o que sei é que ela está sendo bem cuidada e apresenta melhoras. Apesar da doença crônica, está melhorando a cada dia. Continua dando os saltos e solavancos!!! Abraços!

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