segunda-feira, 26 de abril de 2010




Escritor marginal

* Por Renato Manjaterra

Semana passada o Pedrão no Editorial escreveu sobre poesia marginal. Eu fui louco ler porque conhecia era aquilo que se chama contemporaneamente de Literatura Marginal: Sérgio Vaz, Alessandro Buzzo, Ferréz, queria até mesmo eu me incluir no grupo! Imagina achar depreciativo...

Bom, vou usar este espaço de frequência tão fiel e seleta para compartilhar um texto de um cara que se encaixa em todas as definições de marginal possíveis em um espaço Literário. Plínio Marcos. Um cara que era marginal porque escrevia palavrão e vendia seus livros em uma mala que levava debaixo do braço, de couro cru, dependurada do ombro pela alça. Mas que seguramente é uma referência para o Eudoro Augusto, aposto!

Pois bem. Eu conheço um livreiro que dava uns palmos de prateleira para os livros do Plínio, sempre que este vinha ao Campus 1 da PUC daqui de Campinas.

E em outra vez que ele esteve em Campinas ele teve problemas com um cafeeiro secretário de cultura desse culis mundi, como diria o Gregório de Mattos.

Só queria mesmo é que vocês soubessem, além da pontifícia prateleira do Rinaldo do Cafau, que ambientes o Plínio Marcos tinha para sua arte aqui em Campinas, São Paulo:

OBRIGADO A. A. PONTE PRETA

“Um belo dia, os atores Ginaldo de Souza e Vera Viana, voltando de uma excursão ao Norte do país, resolveram fazer uma apresentação em Campinas. Acontece que um dono da cultura local estava montado num cargo público (desses para o qual o cidadão é nomeado e não eleito) e, ao saber que a peça que os artistas queriam apresentar era QUANDO AS MÁQUINAS PARAM, deste autor, virou bicho. E, desconhecendo o Alvará da peça, que fora fornecido pela Censura Federal para todo o território nacional, o dono da cultura local se arvorou em defensor implacável das famílias campineiras e não permitiu que a peça fosse apresentada no teatro que era do município, mas que o papanatas pensava que era dele. (Desgraçadamente, eu esqueci o nome do pilantroso.)

Aí se deu a confa. Ator brasileiro vive sempre catando lata e, diante do esquinapo, o Ginaldo e a Vera ficaram a perigo perpétuo. E já íam se conformando em ficarem no prejuízo, quando a generosa gente da gloriosa Ponte Preta tomou conhecimento do assunto. Nem vacilaram. Abriram as portas de sua sede social para QUANDO AS MÁQUINAS PARAM e garantiram o taco, em nome da liberdade de expressão. E foi um tremendo sucesso. A família campineira pôde assistir tranquilamente a QUANDO AS MÁQUINAS PARAM, o que significou o mesmo que avisar ao dono da cultura que o povo brasileiro não gosta de presepada dessa ordem. Naturalmente, o papanatas se fingiu de morto e não pediu demissão do cargo de dono da cultura.

Esse autor ficou pra sempre agradecido à gloriosa Ponte Preta e à sua gente e, por essa luz que me ilumina, muito mais feliz por ver AS MÁQUINAS apresentada na casa do clube do povão, em vez de ser apresentada no templo do fajuto dono da cultura.

De todo meu coração, obrigado, Ponte Preta. PLÍNIO MARCOS”.

* Jornalista e escritor, Autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com

3 comentários:

  1. Falando em poetas marginais
    deixo registrado aqui, um dos
    meus preferidos.
    Paulo Leminski

    É tudo o que sinto



    Inverno

    É tudo o que sinto

    Viver

    É sucinto.




    Abraços

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  2. Todas as históriass têm dois ou mais lados. A versão do lado fraco costuma ser a mais interessante. Autor na margem, com o talento polêmico de Plínio Marcos, acaba mesmo é no centro do palco.

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  3. é, o Plínio acho que não cultuava bandeirante, né? Nem o Paulo Leminski. Nem mesmo o Eudoro, eu acho.
    Talvez ter um lado é o que faz a marginalidade desses marginais.

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