sexta-feira, 19 de março de 2010




Vida alheia

* Por Rodrigo Ramazzini

Na porta do supermercado.
- Oi Lúcia, quanto tempo! Tudo bem?
- Tudo bem sim! E por lá?
- Também!
- É teu neto, Márcia?
- É sim! Júnior, o nome dele. Filho da Júlia, a minha mais velha.
- Como cresceu! Já está deste tamanho...
- O tempo passa, a gente vai ficando velha... E o Osvaldo?
- Em casa, olhando TV. Está de folga do trabalho hoje... E o Pedro?
- Na vidraçaria! Sempre correndo. Sabe como ele é, né? Mas... trocando de assunto, aproveitando que te encontrei: o que é que aconteceu com o teu vizinho lá?
- Qual?
- O Wilson e a mulher ou ex-mulher, sei lá!
- Tu soubeste? Baixaria total! Deu até polícia...
- Mas é verdade que ele pegou ela com dois na cama deles?
- É verdade! Teve um que até saiu correndo de cueca pela rua...
- Que pouca vergonha! É muito não se dar o respeito...
- Pois é... Mas foi uma baixaria! Só tu vendo...
- Separaram?
- Uns dizem que sim! Outros que eles se reconciliaram e vão se mudar de lá!
- Meu Deus! É o fim do mundo mesmo! Mas falando em separação, e a Dona Clélia que já se separou também...
- Capaz!
- Arãn! Mandou o velho embora. Diz que ele só bebia, só incomodava...
- Bem que eu falei para o Osvaldo que aquele casamento não iria durar.
- Pois é! Se estiveram casados dois anos foi muito...
- Nem isso, eu acho! Nem isso...
- Sabe o Tiaguinho, meu sobrinho?
- Qual?
- Filho da Rosângela.
- Sei sim!
- Foi demitido!
- Capaz!
- Segunda de tarde. Deixaram o coitado trabalhar o dia inteiro para mandá-lo embora no final do expediente...
- E está tão ruim para arrumar serviço, né?
- É! Mas ele reclamava muito do chefe. Contava horrores de coisas que ele fazia com os funcionários...
- Quem é o chefe?
- O Geraldo! Marido da Fátima. Aquela que tu diz que roubou um perfume na ação social da escola. Lembra?
- Sei sim! Esse cara se acha mesmo. Nariz sempre empinado.
- Pois é! Ele mesmo... Mas acho que o Tiaguinho vai começar a trabalhar com o Mário, o advogado.
- Só diz para ele tomar cuidado...
- Por quê?
- O Mário de fama de “trampozinho”...
- É?
- Arãn! Ferrou o meu irmão em uma causa, certa vez...
- Vou até alertar o Tiago, então!
- É bom!
- Mas Lúcia, eu vou lá levar o pão para o café! Beijo: Smack! Smack! Aparece lá em casa para colocarmos a fofoca em dia! Tenho umas boas para te contar...
- Tu também apareces lá em casa! Eu quase não saio...
- Não! Não! Aí meu Deus! Cadê?
- O que foi Márcia? Cadê o quê?
- Cadê o Junior?
- Não sei! Não vi...
- Me ajuda a procurar. Junior! Junior! Juuuuuuuuuuuuuuunior!

* Jornalista

3 comentários:

  1. Muito engraçado!!!!!!!!
    É assim mesmo Rodrigo.
    Lembro-me que quando levava meu
    filho para a escola e voltava para
    buscá-lo
    as mulheres estavam no mesmo lugar
    impressionante.
    Capazzzzzzz!
    Adorei!
    beijos

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  2. Núbia,

    Uma confissão: fazia tempo que eu não me divertia tanto escrevendo uma crônica. Ri muito imaginando toda a cena.

    Muito obrigado pelo carinho!

    Aquele abraço!

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  3. Variação tênue entre a língua de trapo e a boca maldita. O ruim é quando acontece uma boa com alguém que a outra não conhece. Aí é um esforço extremo até aparecer algum conhecido da vítima que a outra saiba quem é, mesmo que seja um toca-parente. Daí a maledicência vai ao outro lado do globo num longo difamar. Fofocar coisa boa, pra quê? Bom mesmo é saber que as medíocres vidas alheias estão piores do que a de quem fala.

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