quinta-feira, 21 de janeiro de 2010




“Óia a anta”!

* Por Fernando Yanmar Narciso

A ignorância é uma benção, disse algum sábio. Não poderia estar mais certo, afinal é uma benção tão grande que quase todos os seres humanos a receberam. Exceto por nós... Ser uma pessoa inteligente é um destino arriscado. Como tudo na vida, tem o lado bom e o lado ruim. Foi comprovado cientificamente que à medida que o grau de inteligência de uma pessoa aumenta, mais o grau de felicidade diminui.

Deve ser uma maravilha atravessar a infância e a velhice praticamente sem nenhuma preocupação além do próprio sustento. Nós, os normais, estamos sempre preocupados com qualquer coisa, com medo até de morrer num escorregão na calçada.

É uma grande verdade do mundo que os burros se divertem mais que os inteligentes. Sabem aquelas pesquisas que dizem os nerds são os “machos-alfa” do novo milênio? Que todos os geninhos serão os mais ricos e disputados pelas mulheres nas próximas décadas? Tudo mentira! Pois enquanto eles passaram a década desenvolvendo gadgets e programas de computador e almejando ao menos engraxar os sapatos de Bill Gates algum dia, um sujeitinho com o Q.I de apenas 100 e que sempre foi fã de uma garrafa comandou por oito anos a maior nação do mundo. Aposto que até o maluquinho do Ahmadinejad tem mais “Ticos e Tecos” que o Bush.

Os inteligentes escrevem textos enormes, com linguagem rebuscada, postam nos blogs, ninguém comenta e eles se sentem um lixo por isso. Os burros batem fotos ou se filmam sendo jogados na piscina com roupa e tudo, ou tomando banho de cerveja derramada por entre as pernas de uma stripper, ou então esmagando latinhas de cerveja na testa, ou dois marmanjões bêbados se beijando de língua, postam no Orkut ou no MySpace e conseguem milhões de acessos e comentários do tipo “Arrasou hem, cara?”

Podem até ser inconseqüentes, mas sem dúvida a vida dos burros é bem mais simples que a dos inteligentes. Enquanto o exercício físico dos geninhos é marombar o dedo indicador no mouse jogando 24 horas ininterruptas de World of Warcraft, os burros jogam bola naquele gramadinho surrado da favela, na esperança de algum olheiro ver suas embaixadinhas, levá-lo para a seleção e, assim, salvar sua família do atoleiro financeiro. Quando alguém agride um inteligente, isso acarreta num processo judiciário, que pode se estender por décadas, até o acusado morrer. Quando alguém agride um burro, SAI DE BAIXO! Quem não se cuidar, acaba saindo com a marca do bofetão na cara, tentando apartar a briga. Resolução selvagem, mas na maioria das vezes eficiente, pois eu quero ver se o outro tem bagos pra se meter à besta com ele de novo...

Nunca vi nenhum inteligente tentando negar sua natureza, ao passo que os burros vivem tentando se parecer com os inteligentes. Calças Gucci falsificadas, cabelos oxigenados, brinquinho na orelha dos “machões”, ternos Armani genéricos... Quantos Óchitos, Uélintons, Stefannes, Suénens, Charlotes, Lancelottes, Merrilins, Jecykas e Maicons você conhece? Tentativas bem toscas de aristocratizar os próprios nomes.

Para encerrar: Os inteligentes criaram o BBB. Os burros participam dele e o assistem.

* Fernando Yanmar Narciso, 25 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com








3 comentários:

  1. Fernando feliz daquele que dá às costas
    para o sistema e não se encaixa em padrôes.
    Amei seu texto!
    beijos

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  2. Mesmo o conhecendo desde antes do nascimento, ainda sinto sustos lendo os seus escritos, pois a cada frase vem uma surpresa. O fecho foi excelente! Numa frase, uma análise nada superficial.

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  3. Com a degradação do ensino no país, fiquei com o pé atrás em relação à juventude, que, sem idéias nem conhecimentos, me pareceu precocemente senil. Por isso, me emociono ao ler suas crônicas: resgato a esperança de acreditar num país governado por gente de bom senso e acuradamente crítica. Apenas 25 anos e já pensa isso tudo! Parabéns, caro Fernando!

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