quarta-feira, 23 de dezembro de 2009




Só uma janela a abrir

* Por Seu Pedro


Olho para o céu través da janela do escritório. Lá estão nuvens bailando ao vento, formando caretas, bichinhos, cascatas, e até um grande Boeing que nenhum Legacy derruba. Tudo no céu se move, até a nossa fé se move por lá. A única coisa que cai nesse vai-e-vem do céu é a chuva, os aviões estão abaixo do céu!

Comecei a perguntar, em pensamento, se eu era tímido ou não? Que qualidades eu, já entrando na terceira e boa idade, deveria ainda adquirir, a de destemido? Eu me acho tímido, tanto que não consegui matar a minha ex-mulher depois de uma noite sem lua e sem mel, em que ela me detalhou como foi feliz na noite anterior, longe de mim, perto um novo bem. Certamente bem melhor!

Foi anoitecendo e as nuvens ganhando o brilho das cidades. Eu, encantado com o olhar ao céu, agora já debruçado na janela, medito: “Sou feliz, muito feliz, extremamente feliz, mas o homem não é totalmente feliz!” No ato, uma nuvem mulher movimentava-se ao sopro do vento, e mudava de formas se insinuando para mim. Agora com provocante vestido de luzes!

“Não!”, meu grito rompeu o silêncio, igualmente a pancada da janela se fechando. Eu não tinha o direito a fazer o mesmo que tinham me feito, traição não. Nem com uma mulher nuvem! Mas quando jovem fui extremamente namorador, adorava ser conselheiro sentimental e consolar ao extremo a mal-amadas. Lembro de uma jovem, casada, que conheci no Rio de Janeiro e sonhei levá-la às nuvens, nem que fosse apenas no fog de uma montanha.

Praça Mauá, Rio de Janeiro, não havia a estação Rodoviária Novo Rio, mãos dadas, embarcamos em um ônibus em direção a Petrópolis, onde existem bons hotéis. Não encontramos um motel na estrada, o amor exigia bons e bem freqüentados hotéis. Não existiam motéis e nem pipoca de micro-ondas. Entre as nuvens baixas e geladas da cidade serrana tomamos uma sopa minestrone com torradas que levam o nome da cidade, Vinho Liebfraumilch. A conta, a gorjeta do garçom, nela um beijo roubado na face, tão ligeiro que não deu tempo de saber o número da chave que sonhei.

Seguiram-se prantos de arrependimento, não meus – eu era solteiro –, e nada do que eu esperava aconteceu, o ônibus em que subimos já estava de saída para descer. Tanto na ida como na volta o passeio foi formidável, conversamos tudo, me contou tudo Como se fossemos irmãos, fomos cúmplices da felicidade de um lar de dois filhos e um ébrio. Hoje não sei como a família vive, o casal deve feliz. Mas até uns vinte anos passados, eu sabia. Ele já não mais bebia, embriagava-se com um amor intenso pela família. Ela em diversas ocasiões me contava as aventura na cama. Éramos extremamente confidentes!

Um homem não pode ter uma só mulher, ele nasceu para várias! Uma para levar ao altar e com ela rolar embaixo do mosquiteiro, de forma que nem uma muriçoca os atrapalhe. Precisa ter pelo menos uma filha mulher, mesmo que tenha filho homem, porque as meninas são muito fiéis ao amor paterno. Um homem precisa da amiga confidente, aquela que vai lhe ajudar no conserto do lar, em grau de amiga e nada mais. E o homem precisa ler artigos, contos e histórias escritas por grandes mulheres, tem que eleger uma, duas ou três escritoras.

Muitos elegem Clarice Lispector. Eu, como sou preguiçoso a ler extensas obras que me fazem espirrar, com as poeiras trazidas das estantes, elegi os textos curtos, porém que me prendem, de Celamar Maione, a “Cel” para amigos. E me encantei estes dias com o Natal dos insensíveis da Keli Vasconcelos, como me encantam outros textos que me fazem tirar os olhos céu e fechar todas as janelas, abrir somente a janela do Comunique-se.

Mas nem só de mulheres vive o homem, também há homens cujos textos nos encantam. Ainda, antes de ir encontrar aquela mulher do céu, penso em encontrar o Fábio Lima, para dizer-lhe como eu gosto de mulher, no que tenho certeza terei o aval de Daniel Santos, e outros e outras, e outras e outros.

* Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.

2 comentários:

  1. Seu Pedro assim como você, às vezes também me
    perco brincando com as nuvens, mas sou amante dos grandes ventos.
    Também amo homens e mulheres como Adélia prado
    Elisa Lucinda, Mário Quintana, poderia citar os meu preferidos do Literário mas temo ser injusta o senhor é mais corajoso do que eu.
    Gostei do seu texto.
    Abraços

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  2. Seu pedro, obrigado pela referência na crônica. Há tempos lemos um ao outro, e espero que tal admiração prossiga em 2010. Feliz Natal ao senhor e a todos os seus.

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